sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Par de reis, a mão coça para apostar, com o rei virado na mesa já tem uma trinca, finge desinteresse, espera que aumentem, aumenta no blefe dos outros, mais duas cartas, all in. Alguém pagou. O cara tinha um flush. Três cartas de naipe igual na mesa. Ele não tinha reparado. 'Fudeu'
É, meu bem, você também
serão todas assim?
Querendo tomar o controle de mim?

Saia, se afaste. Dono não tenho. Dona terei jamais. Jamais outra que não aquela de suave dedilhar, de risada leve e de lindos olhos para mim. Fatos são feios, de fato. 
E vocês, sempre se achando na audácia de me trazer paz. Poupem-me! Tiram a que mal tenho; A pequena migalha que mantém acesa essa débil chama de sanidade. 
Por vezes, perguntam demais. Calem-se! Apreciem a droga do que faço por vocês sem encherem-me o saco. 
Esses problemas me cansam. Vocês querendo tomar o controle só porque não estão mais cabisbaixas. 

Pior! Ainda pior! Quem tenta me arrastar para a luminosidade da definição. Ai de mim. Sai. Deixa-me aqui. Sou louco desde antes, não é seu argumento que isso mudará. Veja bem, nunca olhou fundo em meus olhos; nunca viu o brilho dançante; meu fascínio pelo fogo; meu amor pelo caos; nunca soube dos motivos da insônia; nem a razão das cicatrizes. 
Nunca foste tão fundo na mente deste louco. Tudo que achas que sabes é muito pouco. 
(Eu vejo beleza nessa insanidade.) 
Por que não lhe conto então? A história e tudo mais? Todos esses pequenos detalhes que chama de segredos? Simples. Porque você não quer. Você implora para que eu minta. Você implora para ser jogada na teia de marionetes, que eu brinque contigo. Você não aguenta.

Mas não se preocupe.
Eu estou bem. Como sempre estive. 
Uma pequena discussão, nada demais. Um clima nem tão tenso... Mas cria-se uma competição ali. Uma questão de honra(?). Nada mais é dito até a hora de partir. E quem dirá primeiro? E quem sairá sem dizer? Assume-se que quem fizer o primeiro movimento, perde. Na 'arrogância' saindo sem nada dizer ou 'reconhecendo seu erro' e vindo falar. E é aí que o segundo perde. Perde por não ter agido primeiro. E é mesmo bem assim. Não há vencedores nessas coisas.
Quem diria - ela me perguntou - que neste dia desgraçado iria chover?


mas nem choveu!
choveu sim
nem tanto
nem pouco
mas ela se negava a ver isso, esfregava os olhos e olhava cada vez mais discrente
acabou por desistir de provar para si o contrário



terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Por que eu construo castelos de areia? Porque eu gosto, acho bonito. Veja como a base já apresenta uma perfeição que se repete por toda obra. Veja os detalhes, essa textura espetacular. Veja aqui um erro que transformei num detalhe peculiar, todo especial. Eu me dedico mesmo, faço deles o mais perfeito possível. Admire. Lindo, não é? Grave bem, pois não durará. Antes que a maré o alcance, eu o destruirei. Por quê? Porque é bonito. Porque é meu. Porque eu posso. E, além disso, quem se importa?
Eu lhe dava quase tudo.
Mas ela me trocava com a mesma rapidez que limpava a bunda. Quase mais frequente que as trocas de calcinha. Largava-me de lado como se eu fosse esperá-la.
E esperei.



Até pensar "foda-se".
Um tempo depois ela percebeu o quanto eu me esforcei por ela e veio como se ela não tivesse perdido a única chance que teve(na verdade acho que ela só sentia falta da atenção que eu lhe dava). Tadinha.

Levantei-me daquela cadeira, suado e semi-nu, peguei uma cueca nova no armário, fui pro banheiro, joguei aquela rasgada direto no lixo e entrei no banho.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Sabes o que estou fazendo? Não, claro que não sabes. Porque estou te manipulando. E tua mente é tão fraca que mesmo sabendo disso vai continuar a fazer exatamente o que eu quero. Engraçado, não? Ridículo, né? Ser manipulado, manipular, achar que está manipulando.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Uma escova os dentes se olhando no espelho, outra senta no vaso e solta uns peidos fedidos, uma se esparrama no chão com as costas contra a porta, outra fica me olhando, pedindo com os olhos pra entrar embaixo do chuveiro.
Todas nuas, todas excitadas,
enquanto tomo meu banho.
Deus fez as coisas, mastigou, engoliu, vomitou, comeu de novo e cagou o mundo.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Copos e copos de água. As bebidas se acabaram, o dinheiro está espalhado, a cabeça anda esquecida
e eu, algo perto de acabado.     Mas o meu perto
ainda é longe
ainda tenho o que fazer
ainda tenho quem matar
um momento ou outro de sanidade

preciso
de coisas fortes pra me manter vivo
E eu penso nas mulheres que fizeram parte da minha vida...
É engraçado...
A primeira, nunca mais trocamos nada além de um 'oi' quando socialmente obrigatório.
depois larguei uma
uma me largou
outra me persegue
uma nunca me respondeu
eu cheguei tarde pra outra
uma me usou
eu usei uma
e estou atrás de outra
talvez tenha mais uma e outra
mas me esqueço de lembrar
o engraçado é aprender a sobreviver.
então tenho essas inspirações de bancar o escritor e escrever coisas sobre coisas rotineiras e corriqueiras
mas esqueço.
Somos todos animais criados de diferentes formas.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Procuro-me no espelho, só vejo olhos desesperados
à beira
da loucura.
Vou para o quarto, abro a janela, sento da janela, me jogo pelo quarto, deito na cama, o tempo passa, levanto-me tonto, antes de perceber estou na escada; quando vejo, já desci.

Estou na varanda, sentado com uma vasilha de uva na mesa ao lado. Levanto-me, pego uma, ando pra lá e pra cá enquanto a tiro da casca direto na boca e cuspo as sementes no gramado. O mesmo com as três seguintes. A quinta engulo inteira. Faço isso a cada cinco, acabo por ir contando desse jeito quantas vou comendo. Paro e encaro a décima oitava. Pego a vasilha e desço para o gramado. Começo a arremessar, com toda força contra a parede, cada uva que pego. Elas estouram e se espalham. Sujam a grama. Deixo de estourá-las quando tem umas poucas sobrando. A décima oitava desce com casca mesmo. Largo as restantes pra lá. Sabia que iria engoli-las depois. Sabia que estariam podres antes.
Doença demais pra pouco tempo.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Mais uma hora. Mais uma hora e acaba.
Demorou. Como todas as horas que tenho que esperar.
Passei essa hora ouvindo a música em minha cabeça.
Gritos e explosões por todo o lado.
'Graças a Deus, acabou...'
As pessoas se levantam e se abraçam e as que estão em pé continuam em pé e se abraçam e as que não podem se levantar se abraçam. Tento me esgueirar até a saída, não sem antes ter que abraçar algumas pessoas. Ela percebe que estou indo. Ela vem atrás, me para antes que eu saia:
_Não vai mesmo ficar?
_Não.
_Por quê?
Sorrio e a abraço:
_Boa noite.
Saio para aquela chuva fina e gélida.