terça-feira, 18 de setembro de 2012

Àquela hora, já achava que a noite estava perdida, mas me lembrei que tinha um maço no fundo da gaveta e um isqueiro jogado pelo quarto.

Ela tinha um olhar quase de nojo, provavelmente querendo me perguntar "Como você consegue fumar isso?", mas eu me antecipei e a questionei:
_Como você consegue não fumar isso? Digo, como consegue não se acelerar ao encontro da morte? Como não afundar o pé no acelerador pelo simples prazer do perigo ou pela constante vontade de se acabar?
Ela balançou a cabeça negativamente e me abraçou. Ficou um tempo ali abraçada a mim. Então ajustou a postura, foi até meu quarto, voltou com suas coisas em mãos, sorriu com um semblante triste, e saiu pela porta.

Na verdade, ela nunca esteve aqui. Faz muito tempo que não a vejo; tempo suficiente pra não saber quanto tempo faz. Giro a chave na porta, vejo minha respiração, a noite é sempre gélida por aqui, abro o portão e me sento no meio-fio. Um suspiro longo. Cansaço. Nada mudou nesse tempo todo. Não consegui o que queria. As pessoas não mudaram. O mundo não aprendeu sua lição.