Fui à cozinha e peguei algo para beber na geladeira. Eu gostava dessas garrafas mas gostava mais delas vazias. Sentei-me na cama e me recostei contra a parede - eu bebia ora em generosos goles, ora apenas molhando a boca pensativo - até começar a pensar mais que beber e resolver acabar logo com a garrafa. Vazia.
Deitei-me. Percebi como tudo estava dolorido assim que ajeitei meu corpo, eu sempre tenho a impressão que o forço além do que ele aguenta... Não que eu me importe, mas sei que um dia ele para de responder. Respirei fundo. Eu admirava aquele céu apesar dele estar num tom cinza denso (mas não me pareceu ser denso demais). Estiquei meus braços, me espreguiçando, e minhas mãos esbarraram num isqueiro e num maço de cigarros amassados (colocados ali propositalmente momentos antes), os trouxe para perto de mim e passei um tempo só segurando aquilo.
Acendi um. O vento não ajudou mas não fora algo difícil. Era como respirar normalmente, ou eu realmente me tranquilizei depois da primeira tragada? Seja como for, fiquei aquele tempo só relaxando. Não me deixando pensar. Encarando aquele céu cinza. Quando o cigarro já estava pequeno o suficiente para esquentar a ponta de meus dedos, pensei em apagá-lo na minha mão. "Por que não?", não é? Na verdade, gosto demais das minhas mãos para fazer isso. Apaguei-o no pulso.