terça-feira, 22 de outubro de 2013
Lembro-me dele andando pra lá e pra cá sorridente. Doente, diziam. Terminal, completava. Um desses flashes, muitos anos atrás, ouvindo a palavra pela primeira vez, minha mãe quem disse, foi dita em tom tristonho, aquele que aterroriza - "Os médicos disseram que é terminal.", "Terminal o quê?" - não captei o sentido naquela inocência e distração da infância, mas ainda assim senti a gravidade da fala. "Doente terminal significa que..." - nem ouvi o resto, entendi ali, compreendi naquele instante como as coisas eram frágeis e um medo estranho percorreu meu corpo; nada, não havia nada a ser feito. Enfim. Ele me cumprimentou e perguntou sobre minha família, eu disse que até o cachorro tinha se mandado, ele gargalhou e disse que dos piores eu era o melhor, eu disse que era o melhor dos piores mas que era ele quem estava certo, ele gargalhou mais ainda e bateu nas minhas costas dizendo "Você é uma figura, cara.". Fiquei sabendo depois que ele foi atropelado por um ônibus. Coitado. E nem era o que ele sempre pegava, tampouco estava no terminal.