domingo, 15 de dezembro de 2013

Cacos de vidro pelo meu quarto. O prato simplesmente caiu quando eu o deixei no ar. Gravidade. Eu não estava bêbado na hora mas estou agora. Estava na metade do dia, ao menos dizem ser o meio; já passou quase toda a noite. Nada disso faz muito sentido, como todo o resto em minha cabeça, mas eu vejo, vejo sentido nisso e vejo através de muitas coisas, o que nunca me ajudou em nada.
As palavras são cadeias e correntes; cadeias de ideias, correntes em si.
 
Não me bastasse a idade na alma, ando com cheiro de velho. Rabugento também, talvez. Bateram na porta. O frio e a decência me fazem vestir um moletom antes de atender a porta. As pernas não importam muito, bom é cobrir o peito. Porta errado, queriam o vizinho, entregar um fogão, acho.

Horas, dias, ou qualquer unidade, talvez dualidade, de tempo depois me vejo andando por aí. Passei embaixo de todas as escadas possíveis, gatos pretos cruzaram comigo na rua, não cruzei com nenhum. Nunca sei como deveria gastar meus últimos dez reais. Nem meus primeiros. Mas sempre dou um jeito de não ter dinheiro. Às vezes pareço o mais miserável dentre os colegas, às vezes sou. Não sei medir minhas doses. Não sabia medir as palavras, por isso trago o sempre amargo ocluso gosto na boca e deixo que meus dedos digam os absurdos de minha mente, joguem o lixo fora por mim. Ou de, ou de. Daí eu decido ou faço terminal minha indecisão do que fazer.

Aqueles dias que acabam antes do meio-dia... Em que já se está bêbado e acabado pelo dia todo. Mas sou exagerado, ou insatisfeito; ou ainda, uma mistura bizarra dos dois. Saio de casa e me perco em becos, calçadas, casas que parecem bares, bares que parecem restaurantes, quem sabe alguma viela, em algum momento. Chove e a chuva entra em minhas roupas mas não em mim, nunca é o bastante nem pra me refrescar se correr. Copo após copo deixo minha mente mais distante do mundo. Mas ela continua presa a meu corpo, sinto ela pesando dentro de minha cabeça, largo o copo no lixo, está bom por hoje. Talvez eu tivesse percebido que dali pra frente eu não seria levado a lugar algum e talvez acordasse abraçado a uma privada pública. Saí de onde quer que eu estivesse, com acenos de cabeça para pessoas que pareciam me conhecer, mas evito sorrir, sem mais interações sociais por hoje, por favor. Desço a rua um pouco cambaleante mas a minha - embriagada - dignidade me mantém em pé e sobre passos que parecem retos. Entro num lugar que ainda estava aberto, ou já estava - não sei, não sei. Reúno alguma coisa mentalmente no tempo que a garçonete anda até mim. Pergunto sobre cafés, só expresso, qual, esse, pode ser, só um minutinho, obrigado. Penso em como chegar em casa, o café chega. Sem açúcar, ah... Ótimo, mas um pouco de coisa doce me cairia bem agora, o sachê tem a quantidade ideal, serviços bem feitos são reconfortantes, mas devem ter errado um pouco antes disso. Termino, pago, pego o caminho pra casa. Penso muito agora em como conseguir fazer coisas banais. Unidades de tempo depois estou escorregando na própria porta, batendo a cabeça contra ela e tendo dificuldades em abri-la. É engraçado como depois de buscar a embriaguez, procuro em cada canto a sobriedade.

Tomei um gole de água. Havia álcool do lado, mas tomei água. [...] Você vê? Como não especifico. Um dia desses bebi bastante e bem rápido, comecei a falar alto com umas pessoas que poderia considerar como meus amigos, se eu soubesse fazer isso. O problema é que mesmo não querendo nomear, acabo por aprender. Whisky, cachaça, vinho, conhaque, cerveja, tequila, rum. Não faz muita diferença se beber o necessário. Percebo-me velho quando começo a criar maneiras de só tomar a mesma coisa. Não sei o que busco nos copos, de café, mas eu os bebo até meu corpo reclamar. Inspiração? Sossego? Concentração? Nah, nada disso. A famosa linha seguinte do velho maldito, talvez. O álcool é infinito para os teus propósitos.