domingo, 9 de março de 2014

Encontro-te na rua, quase bêbado, ando até você, não digo seu nome, não sou familiar a ele; te abraço, por mim ou por ti, ou pela solidão, ou pela compaixão de quem sabe também o que é ter o peito cortado em incontáveis pedaços, talvez literalmente demais. Encontrei-te por acaso novamente mas nada é por acaso tão somente. Esqueci meu cigarro em casa mas faço o gesto de tirá-lo dos lábios. Ah, as brasas que já me queimaram. Estamos os dois longe demais da sobriedade e perto demais um do outro. Você se aproxima pra me beijar, julgo; contenho tua boca com meu dedo, não vim aqui pra isso. Seus olhos soltam fagulhas de revolta e indignação pelo rejeitar. Hoje é um dia difícil e eu só quero um pedaço de chão para não acordar em casa. Pediria desculpas por isso se houvessem palavras em minha boca e dali ia embora; ou pedia um pedaço de sala no desespero, só pra desaparecer um pouco; ou convidaria para uma boa bebida e com ela, uma boa história. [...] E, no fim, isso tudo poderia só ter sido, um ocorrido fora do comum, mas o consumado é que passei do teu lado com os olhos no horizonte e você sem saber olhar senão pra frente.