De almas alvas viemos e nos colorimos com o que vivemos, minha mente varia de tonalidades, azul e laranja minhas favoritas, mas minha alma é vermelha, vermelho vivo, vermelho sangue. Sangro fácil, as coisas me doem fácil mas também amo fácil, sinto fácil e por mais que eu tenha tantos fáceis em mim, parece-me que sou difícil compreender. Meu coração é simples, sonhando que imagina caminhos retos nessas ruas tortuosas de becos sem saídas. Mas minha mente é louca, digna dos mais escuros hospícios e mais pesados livros. Sinto uma afeição e proximidade inexplicáveis com doentes mentais por isso. Acho que estou somente um passo atrás deles, apenas uma questão de controle e (ou, talvez) inteligência
O que não me desce numa tragada empurro com uma bebida, arde mais o peito que a garganta. Um gole pro santo e outro pra tragédia. Dos que sobraram da turma, sou sempre o primeiro a ficar bêbado e o último a largar a garrafa. Mas até isso já faz um tempo e não cabe aqui.
Vomito, vomito-me ao chão, reviro todo meu ser em várias golfadas. Negro como piche, reflexivo como espelho. Vejo-me, me vejo, repito porque olho bem, rio porque conheço bem, é fácil demais se desesperar e achar graça, tanta coisa, tanto ódio e tanta loucura, até me espanto - de verdade - com tudo que se dispõe à minha frente. Mundo, mundo, vasto mundo, o que já fui? Nem medo, nem vergonha. Apenas horror e a sensação de estar em casa. Mundo, mundo, vasto mundo, dá-me uma rima que combina pra amansar minha construída desgraça. Se não fosse cada passo, em ultimato, tomado por mim; não fosse o frenesi a me arrastar cambaleante; fosse eu mais da luz. Mas o que esperar senão isso de um vômito-eu? Ah, do topo o caminho é todo diferente; aprecio, sim, a escalada, mas não sinto mais. Ainda não sei o que agradeço e o que despedaço; mas nada feito, nada será, nada se fará.