terça-feira, 12 de maio de 2015
Espero sentado em um banco, cabisbaixo com uma mão na outra também cabisbaixas. Ouço as botas pesadas contra o chão. Eles chegaram. Levanto do banco. Seis soldados com coletes e máscaras. Colocam um grande saco preto no chão. O comandante mostra seu rosto nipônico e diz que o pedido está pronto. Dois enfermeiros se aproximam para verificar o conteúdo. Olho ao redor, o hospital era o único prédio iluminado na madrugada. Suspiro. Acenam pra mim afirmativamente, o corpo está correto e os órgãos internos também. Eu só precisava de um osso grande qualquer que não sei, mas eles só produziam completos. Você podia basicamente pegar qualquer parte pra si; exceto o cérebro, que eles vinham sem. Falência cerebral era a única maneira de morrer. Isso ou ser pobre. O governo dizia que tal coisa não existia mas todos sabiam que se precisava de sua permissão ou de dinheiro para poder se reproduzir - bem, o fato era que quem tinha filhos não regulamentados sumia alguns dias depois. Algo que realmente me incomodava era o rosto do meu recipiente que parecia genérico e inexpressivo, como se todos os recipientes tivessem esse rosto - mas eu não tinha como saber disso porque era o primeiro que eu via. Eu tinha um osso quebrado internamente que acabaria perfurando um órgão vital, algo assim. Convenceram-me que eu precisava daquela cirurgia.