segunda-feira, 11 de maio de 2015

Ouro Preto perdeu seu encanto quando eu me encantei por minha menina. Além do sujo das pessoas, essas festas não combinam com aqui; meu conhaque combina, minha sinuca combina, meu cigarro combina, solidão combina.

Que outra cidade tem o frio do sul e o calor do nordeste num cenário tão próprio? Mas nada igual, são só sabores abrandados pela distância. Foi o vento quem trouxe. O vento que por vezes uiva; sem notícias, sem objetivos. A cidade que geme ou os moradores que suspiram? Há um manto triste sobre a cidade e todos ignoram. Amar a lua é fácil mas não sei se te gosto, cidade. Não sei se te desejo fim ou salvação, cidade. Há uma dualidade trazida, não nascida. Nativos ariscos e estrangeiros aproveitadores. Há ressalvas de ambos os lados; onde não há? Mas bosta ou meia bosta não me apetece por igual. Eu queria a cidade só pra mim. Ou me enganei de te pensar mágica? Ou me iludi com toda essa beleza viva?
Era eu inocente demais? Era eu virgem demais?

Ah, Ouro Preto, quem é o escravo agora? Diz-me se essas ruas asfaltadas não são cicatrizes cinzas em teu corpo. Diz-me se esses prédios feios não são queloides que jamais sumirão. Diz-me se sofres ou se sofro sozinho por ti. Dize-me aqui baixinho só pra mim se essa chuva lava teu sangue e choro. Mente nossa semelhança. Explana minha loucura. Acalente-me com tua nudez e uma canção de ninar dos mortos.