quarta-feira, 3 de junho de 2015

Sabe como é, a turma é do futebol, a galera é da festa, o pessoal é do trabalho. E tem os sobreviventes, que são do bar. Mas bar mesmo, não essas frescuras reluzentes e piscantes que mais parecem árvores de natal e atraem mais crianças tresloucadas que pornografia na televisão. Bem, aquele é meu povo. Como andarilho, viajo a esmo mas se fosse escolher um lugar pra ficar, ou talvez eu apenas ainda seja jovem demais pra morar com eles naquela depressão toda, certamente escolheria um bar desses. E depois uma casa perto ou um banco numa praça, caso dormir no bar fosse inviável. A coisa é que ainda procuro no mundo e em mim, apesar dos inúmeros momentos em que minha única busca era sobre o que tinha no fundo do copo. E das garrafas. Nunca algo. Nunca é muito tempo. Nunca é todo o tempo. Nem assombrado sou mais!
Os cães se calaram, os demônios sumiram, as alucinações cessaram. Explicado, alimentei-me de meus cães, devorei seus corações selvagens; cacei meus demônios sem parar, os matei sem comê-los, todos os seis; a loucura tão antiga se acomodou perfeitamente em minha cabeça e já não mais saía - sem permissão. Tornei-me meu próprio demônio. Tornei-me meu único demônio. E bem aí, me veio nostalgia. A lembrança de um menino encolhido com seus oito aninhos pesando sua cabeça, seu corpo tremendo de frio, e a sensação quente surgindo no peito que queimava, doía e confortava.