Não aguento conviver com essas pessoas. 8 horas por dia. 6 dias por semana. Normalizam-me, não suporto.
O ano virou e tem chovido desde então. Acumulam-se vinte e um dias. Eu me pergunto se isso não as afeta. Não consigo ficar tranquilo com isso, não poderia. No fim, o louco sou eu.
Os ponteiros na parede nunca me disseram nada. Os números no relógio nunca me disseram nada. Sete e dez. Quinze para às três. Onze e meia. Não me dizem nada.
Um cão me comove mais que essas pessoas vazias. A música é minha salvação, ver sem ouvi-los é uma benção.
Retorno à tortura de pensá-los. São dementes sãos, cegos que veem, mortos fora do caixão. Procuro justificativa pra isso mas não encontro nem resposta de por que me importo. Perder mais tempo assim me mata mas nem me dói. Não sei o que quis dizer das palavras babadas, escorridas de minha boca sem controle; sei, porém, que em duas frases contou-se cinco socos. Se fosse pra medir quem machuca mais, eu ganhava; sempre ganho nisso, cresci me machucando, sou bom nisso. Desculpas já são difíceis e temos que seguir, o sol já vai raiar, o trem vai apitar, a fábrica começar, pão comer, fugir. Não tem gosto mais amargo, não tem outra coisa que me tira a voz.
Se tem algo que sinto uma falta irreparável é de tempo. Antes eu podia levar uma semana inteira pra me recompor, podia enlouquecer à vontade, rabiscar meu corpo, dançar na chuva. Hoje vivo um ciclo nojento em que o domingo serve só pra lavar um pouco do cansaço, se muito. Existe um monstro chamado rotina tentando me engolir e quase me pergunto "por que não?". Os anos se acumulam mais rápido que a poeira, as garrafas escondem os livros, os instrumentos apodrecem na parede, o desgaste enferruja o sorriso, até as cicatrizes envelhecem.
O mundo insípido, as pessoas indigestas, quero sumir com todos.
Eu vivo no limite. No limite dos prazos, no limite do despejo. Do desprezo? Já passei pra nunca voltar. Eu me desespero com esse mundo todo o dia antes do jornal da manhã. Não se tem mais leiteiros, gente ruim compra seu próprio leite. A vizinhança é toda maluca; maluca ruim.
Das flores. Rua, ilha, maria. Pensaram pra rimar com dores? É morte, miséria, desgraça. É nego empacotado por 10 conto. Tem homem se matando amarrado ao banco do carro em chamas solto em um morro seguindo na direção de um muro. O mundo é mais louco que a imaginação. Somos mais depravados que ousamos escrever. Um vômito só.
Procuro água. Água de beber. Água de lavar. Esfregar até sair os males encrustados, arrancar a própria raiz que é toda podre. Fruta boa também dá em terra ruim. Não? Arranhar a pele de tanto se coçar. Morder-se, pobre cão.
domingo, 24 de janeiro de 2016
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
Em três meses, eu envelheço onze. E sei cá dentro de mim que da idade só pego o cansaço. Repasso meus eus, meus enterros, minhas tenras emoções, meus projetos inacabados que assim permanecerão por falta da fúria e da paixão. Ah, não há arrependimento tanto quanto não se quer vomitar a embriaguez depois de ingerir. Seguro, me abraço nesse gosto amargo que arde a garganta e desço junto dele ao meu cerne. Floresceria se fosse flor, enlouqueceria se fosse são. Toco e sinto sem saudades, alheio. Não me quero. Adoro-me sem igual. Desconstruo a mim peça a peça.
Não sei depois o lugar.
Perco-me, perda de tempo. A desgraça do hoje apaga o brilho de ontem e a promessa de amanhã. Fico velho mas não fico sábio. Fujo de mim em círculos lentos. Hei de estar distante em algum momento. Por hora, o monólito de meus erros obscurece meu caminho. Atrelo-me a correntes que são todas iguais, passadas ou vindouras; são-me limitantes. Cativo de mim, as palavras são levadas ao extremo do significado e da distorção. Calo-me. Nem digo pra não (ter de) me contradizer.
Ó, bobo eu, aprende, aprende de uma vez. Nem pernas fortes se ganha de uma fuga. As tuas, pequeno eu, são fortes de trilhar o próprio caminho, sê veemente, diz o que tem pra dizer, diz o que deve ser dito, diz pensando e não de puro ímpeto para calar-se depois em silêncio duradouro e contemplativo e resoluto e que não leva a nada - salvo a própria condenação.
Aprende, velho eu, que tua inocência nunca existiu, que já a quebrara bem novo enquanto rasgava por sua mente incontáveis delírios, enquanto pensava como as pessoas conseguiam destroçar tantas vidas, tantos corações, tantas almas. Destroçaste tuas cotas e nem conseguiu rir de si. Riu, quem não riria? - de tuas ironias, disso que coincide com aquilo e isto num momento qualquer (in)oportuno.
Ouça, desgraça si, teu altruísmo disfarçado de ego enganou tão bem e falhou tão miserável.
Não sei depois o lugar.
Perco-me, perda de tempo. A desgraça do hoje apaga o brilho de ontem e a promessa de amanhã. Fico velho mas não fico sábio. Fujo de mim em círculos lentos. Hei de estar distante em algum momento. Por hora, o monólito de meus erros obscurece meu caminho. Atrelo-me a correntes que são todas iguais, passadas ou vindouras; são-me limitantes. Cativo de mim, as palavras são levadas ao extremo do significado e da distorção. Calo-me. Nem digo pra não (ter de) me contradizer.
Ó, bobo eu, aprende, aprende de uma vez. Nem pernas fortes se ganha de uma fuga. As tuas, pequeno eu, são fortes de trilhar o próprio caminho, sê veemente, diz o que tem pra dizer, diz o que deve ser dito, diz pensando e não de puro ímpeto para calar-se depois em silêncio duradouro e contemplativo e resoluto e que não leva a nada - salvo a própria condenação.
Aprende, velho eu, que tua inocência nunca existiu, que já a quebrara bem novo enquanto rasgava por sua mente incontáveis delírios, enquanto pensava como as pessoas conseguiam destroçar tantas vidas, tantos corações, tantas almas. Destroçaste tuas cotas e nem conseguiu rir de si. Riu, quem não riria? - de tuas ironias, disso que coincide com aquilo e isto num momento qualquer (in)oportuno.
Ouça, desgraça si, teu altruísmo disfarçado de ego enganou tão bem e falhou tão miserável.
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