Em três meses, eu envelheço onze. E sei cá dentro de mim que da idade só pego o cansaço. Repasso meus eus, meus enterros, minhas tenras emoções, meus projetos inacabados que assim permanecerão por falta da fúria e da paixão. Ah, não há arrependimento tanto quanto não se quer vomitar a embriaguez depois de ingerir. Seguro, me abraço nesse gosto amargo que arde a garganta e desço junto dele ao meu cerne. Floresceria se fosse flor, enlouqueceria se fosse são. Toco e sinto sem saudades, alheio. Não me quero. Adoro-me sem igual. Desconstruo a mim peça a peça.
Não sei depois o lugar.
Perco-me, perda de tempo. A desgraça do hoje apaga o brilho de ontem e a promessa de amanhã. Fico velho mas não fico sábio. Fujo de mim em círculos lentos. Hei de estar distante em algum momento. Por hora, o monólito de meus erros obscurece meu caminho. Atrelo-me a correntes que são todas iguais, passadas ou vindouras; são-me limitantes. Cativo de mim, as palavras são levadas ao extremo do significado e da distorção. Calo-me. Nem digo pra não (ter de) me contradizer.
Ó, bobo eu, aprende, aprende de uma vez. Nem pernas fortes se ganha de uma fuga. As tuas, pequeno eu, são fortes de trilhar o próprio caminho, sê veemente, diz o que tem pra dizer, diz o que deve ser dito, diz pensando e não de puro ímpeto para calar-se depois em silêncio duradouro e contemplativo e resoluto e que não leva a nada - salvo a própria condenação.
Aprende, velho eu, que tua inocência nunca existiu, que já a quebrara bem novo enquanto rasgava por sua mente incontáveis delírios, enquanto pensava como as pessoas conseguiam destroçar tantas vidas, tantos corações, tantas almas. Destroçaste tuas cotas e nem conseguiu rir de si. Riu, quem não riria? - de tuas ironias, disso que coincide com aquilo e isto num momento qualquer (in)oportuno.
Ouça, desgraça si, teu altruísmo disfarçado de ego enganou tão bem e falhou tão miserável.