Tiro a máquina de sua caixa. Coloco na mesa, sirvo a cachaça. Acabou o dinheiro do conhaque. A cachaça escondo na geladeira pra não evaporar. Talvez sacar a máquina faça mais sentido visto que disparo minha alma nela ou com ela. Tudo é meu novamente, a construção ao lado parada; é domingo. É engraçado ou ridículo fugir da casa dos pais na adolescência e acabar morando com outras pessoas. O aluguel é um absurdo e se o contrato fosse sincero vinha cobrando os olhos e a cara, talvez a alma, vez ou outra o corpo. Por isso juntamos vários e pagamos em dinheiro. Se você diluir uma pessoa o suficiente, sai dinheiro. Tranco as portas girando a chave o máximo possível. Quero o silêncio só pra mim, quero o barulho das teclas ecoando pela casa.
Minhas mãos não tremem, isso já passou. Movo os dedos freneticamente mas é preciso o ritmo certo para não travar as teclas. Minha mente corre muito a frente, minha língua tropeça só de lembrar. Pra mim, loucura é algo tão rotineiro quanto a chuva, talvez mais. Será que hoje fico louco? E se ficar, volto cedo? Volto? Sei que volto, correntes servem pra isso.