terça-feira, 21 de novembro de 2017

Deixo as questões existenciais para o final de semana. Questiono se estou paranoico... Por que o valor das compras do supermercado deu o mesmo número de litros que abasteci enchendo o tanque do carro? Chego em casa do trabalho, é a hora certa para dormir. Sento na cadeira, olho para a parede, é madrugada, não era. O mundo comeu 5 horas ou mais da minha noite e eu nem vi. Relaxei um pouco a mão e caí por completo, é por isso que estou aqui?

Não consigo pensar direito. Não me toco na cama. Não sei quase mais nada. Minha cabeça gira de pernas bambas sem sair do lugar, sem estabilizar e sem cair. A quase loucura é pior, muito pior. Coito interrompido. Biscoito esfarelado. Problemas que são quase de verdade.

É o calor? Deve ser esse calor. Estou em silêncio mas não estou calmo. Meus movimentos entorpecidos, quero correr. Estou sofrendo sozinho, estou sofrendo de graça. Sem ou compostura me desfaço integralmente. Não estou conseguindo enlouquecer. Socorro.

Não consigo mais me comover com isso que chamo de ironia. Vejo, sofro e fica nisso. Um tapa na cara que não posso parar pra sentir.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Preparei um copo desses de boteco para tomar um vinho chileno. Bem aí notei que não tinha um saca rolha. Já instaurada minha vontade de bebê-lo e de garrafa em punho, não me restava alternativa a não ser usar um alicate para abri-lo. Foi uma luta. Por fim, de garrafa aberta, ousei o primeiro gole direto de sua boca e decidido naquele instante que não havia nada mais justo, guardei o copo no armário.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Queria escrever aqui sobre loucura, angústia, solidão, brilhar a melancolia sobre a tristeza, relembrar a pulsante ironia mas corri disso tudo. Não sei se é apenas o momento mas o que ferve em mim é raiva. Não esse ódio bobo por coisas que não se entende, não raiva tola por coisas pequenas, é algo nascido há muito, espontâneo mas nutrido por mim desde então. Ira. Enraizado não transcreve o quanto sou. Pela infância, pelo colégio, pela rua, pelo trabalho, a única coisa que me manteve seguindo em frente por todos esses anos foi essa fúria. As pessoas foram as primeiras a me falhar, claro, esperado, sempre o início. Mas minha inteligência me falhou, minha força me falhou, minha tristeza. Todas as emoções, todas as qualidades, todos os defeitos me falharam. Quando minha sanidade me falhou, minha insanidade! Quando a loucura! Justo ela, com quem compartilhei todas os cômodos de minha vida, ah, mas a fúria sempre habitou meu corpo. A loucura por vezes vinha, compartilhava de meu corpo, dançava comigo; por vezes me observava de longe sentada em uma poltrona inexistente fumando seu charuto e tomando seu conhaque. Eu costumava perguntar aos outros o que os motivava a levantar e viver o dia. A minha resposta é a mais simples de todas as que já ouvi. A lua cheia uiva para mim. Queria uivar de volta.

Construí minha força com minha fúria. Fortaleci minha mente com minha fúria. Sobrevivi com minha fúria. Tive amor, felicidade, tristeza, solidão, tudo isso me prendeu, me limitou. Calei as vozes da minha cabeça com fúria, me levantei do chão com fúria, trespassei tudo em fúria; corações e obstáculos.

Todas as minhas cicatrizes são cicatrizes de fúria. Todas as minhas conquistas são conquistas de fúria. Todos os meus dias são dias de fúria.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

É madrugada. Encontro-me na rua, admirando o céu. Tonalidades de um azul profundo se entrelaçam, em partes pintadas com traços de nuvem e em outras recortes esculpidos com destreza dando espaço para as estrelas brilharem com suavidade. A lua se recolhera hoje deixando que tudo mais ganhe sua parcela de contemplação e suspiros. O silêncio flui junto ao vento, leve e sereno, indicando em seu movimento dançante que estará mais belo a cada segundo, a cada apreciação. As estrelas brilham em igual, respiro o tanto que a noite me pede, não ousaria fazer diferente, seu perfume vindo a mim no farfalhar gentil de pequenas folhas. Acaricia meu rosto com a ponta macia de dedos longos e conhecedores, sorrio de volta. Sentiria o medo crescente das coisas frágeis não estivesse preparado, é claro que o silêncio cresceria como um manto ao meu redor, como um lindo vidro que eu pudesse tocar e que certamente quebrariam; mesmo sabendo disso, não temi de antecipação, não receei por momento algum, não que eu estivesse pronto para bater de peito com a sensação e a dor dos estilhaços de silêncio sendo rasgados, estava apenas ciente disso tudo em uma parte distante da minha mente enquanto me concentrava em observar e absorver aquele momento.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Você acabou de desligar. Estou aqui me retorcendo. Vão correr os primeiro vinte e poucos minutos, depois o tempo se suspende e as horas escorrem mas se acumulam. Horas depois ainda vou olhar nossa última ligação. Às vezes fico acordado, às vezes adormeço sentado. O pescoço torto, o corpo duro; provavelmente vou acordar com sua ligação. O sol nasce sempre, maldição terrena. Ontem existiu mas nem parece. Se os teus gritos se desfazem para não serem lembrados. Por que não tuas juras? Sumindo entre um evaporar e desaparecer como névoa desfeita pelos raios solares.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

São duas horas da tarde. Do quarto fechado, da cortina improvisada, do suspiro apertado, pouca diferença faz. Do desespero velado, do monótono feriado, nada importa. Não importa a gaiola de meu corpo se estou preso nele. Se não saio de mim, se tenho toda essa pele, toda essa pretensão de ser outra coisa. Não me cobro voos loucos, noites de embriaguez ou o calor de uma cama. Quero ser minha loucura, quero licenciar-me do mundo por dias ou semanas. Tem muita coisa viva em minha mente esperando ser digerida ou apodrecer. O tempo é mais louco do que jamais serei. Não sentes na pele toda a pressão do mundo? Não te aferra a carne o desespero das horas? De ser qualquer coisa. De estar noutro lugar. De mover-se, correr, talvez​ de si, sempre de si. Não estremece teu corpo com o peso de tudo? Manter a sanidade se torna secundário. Como sobreviver até amanhã? Tua mente se rasga entre lembranças e possibilidades, as bordas inexistentes de teu ser fazem forte sua ausência. Expande-se em tudo que pode tocar, efêmeras, as coisas, o pensamento, o tato... O paladar permanece, a fome reina. Já passei uma semana sem minha consciência, nunca passei mais que um dia sem minha fome. O prazer inexistente de cravar os dentes, o sabor percorrer tua boca até tua garganta. Salivar na ideia de ter.
Se te perguntarem hoje, mente que entende.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

São anos, terra, ventos, tudo que se pode passar. Mas volta a sensação, talvez reforçada por todo esse tempo latente, talvez revigorada por todo esse ódio acumulado. Pura e simplesmente sinto vontade de queimar o mundo, e descarrego tudo isso em mim. Meus dedos abrem feridas nas pontas de se retorcerem contra a mesa, a parede, o chão. Meus punhos sangram com socos vãos. Minha pele se rasga com arranhados desesperados. Quero cortar, abrir, me virar ao avesso. Ver o que mora em mim e é tão ruim, tão amargo.

Sou feito de ódio e fome. Meu primeiro choro nesse mundo foi de fome. Sinto fome desde que nasci, fome de tudo, só fome. Consumir o mundo, me devorar até sumir. O senhor que todo dia colocava uma bala no cilindro e puxava o gatilho contra a cabeça é o homem que faz mais sentido, o que são os outros então? O que é essa faca que giro sobre a mesa? Estou tão cansado, quero dançar. Começar com um primeiro corte de ódio, a primeira gota de sangue, o frenesi que se segue. A dança louca, simples e íntima da lâmina e do ser. O que faz parar é trazer toda a dor para fora, ou cair no chão e adormecer. Cicatrizes são feitas pra se acumular.

Escrevo em meu corpo segredos da minha sanidade. Não saberei ler depois. Não precisarei ler depois. Minha mente dará outras voltas, outros contornos, não digo que irei parar no mesmo lugar, não saberia dizer. Sou outrem, no mesmo corpo, nos mesmos pecados, novo amargo. Sou o mesmo, nunca mudo, transformo tudo, enterro a mim. Embriagado pela luz tremeluzente do fogo sob o vento, tudo toma calma frente ao delicado furor da chama, fecho os olhos e deixo o cansaço me levar.

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Meu peito sangra. Uma sensação que tenho desde novo nas maiores dores. Algo escorre dentro do meu peito minguado, líquido e um pouco viscoso, suponho sangue. É um prelúdio à morte, não demora vou-me sem saber o que vem depois, as batidas do coração ecoando nos ouvidos - descompassadas, perdidas, apertadas. Amanhã quem serei? Choro. Principalmente por saber o que vem depois. A perda de mim, o entorpecimento da mente, o deslize na escuridão e o despertar vazio, não serei o mesmo, estarei morto e enterrado e minha carcaça seguirá com algo em meu lugar. Novamente, sempre fui bom em misturar, nunca em pertencer. Será um ciclo? Mesmo a cada vez estando mais endurecido, a dor só aumenta. O desespero tem novas formas mas se manifesta em meu descontrole. Como não odiar a mim? Como não querer queimar o mundo? Como não cortar meu corpo na tentativa de deixar... A quem engano? Os ferimentos só me servem de lembrete ou entorpecente. Não adianta eu ou qualquer alguém correr agora, não é um caminho sem volta, é apenas uma queda livre. Encolho-me até não mais existir e é o que de fato acontece. Acordo entorpecido, distante de tudo. O tremor se foi, as contorções do corpo se foram, como a areia se esvai na ampulheta, minha memória se esvai de mim e já não sou, fui-me também. Tolo eu.