quarta-feira, 31 de maio de 2017
Meu peito sangra. Uma sensação que tenho desde novo nas maiores dores. Algo escorre dentro do meu peito minguado, líquido e um pouco viscoso, suponho sangue. É um prelúdio à morte, não demora vou-me sem saber o que vem depois, as batidas do coração ecoando nos ouvidos - descompassadas, perdidas, apertadas. Amanhã quem serei? Choro. Principalmente por saber o que vem depois. A perda de mim, o entorpecimento da mente, o deslize na escuridão e o despertar vazio, não serei o mesmo, estarei morto e enterrado e minha carcaça seguirá com algo em meu lugar. Novamente, sempre fui bom em misturar, nunca em pertencer. Será um ciclo? Mesmo a cada vez estando mais endurecido, a dor só aumenta. O desespero tem novas formas mas se manifesta em meu descontrole. Como não odiar a mim? Como não querer queimar o mundo? Como não cortar meu corpo na tentativa de deixar... A quem engano? Os ferimentos só me servem de lembrete ou entorpecente. Não adianta eu ou qualquer alguém correr agora, não é um caminho sem volta, é apenas uma queda livre. Encolho-me até não mais existir e é o que de fato acontece. Acordo entorpecido, distante de tudo. O tremor se foi, as contorções do corpo se foram, como a areia se esvai na ampulheta, minha memória se esvai de mim e já não sou, fui-me também. Tolo eu.