Queria escrever aqui sobre loucura, angústia, solidão, brilhar a melancolia sobre a tristeza, relembrar a pulsante ironia mas corri disso tudo. Não sei se é apenas o momento mas o que ferve em mim é raiva. Não esse ódio bobo por coisas que não se entende, não raiva tola por coisas pequenas, é algo nascido há muito, espontâneo mas nutrido por mim desde então. Ira. Enraizado não transcreve o quanto sou. Pela infância, pelo colégio, pela rua, pelo trabalho, a única coisa que me manteve seguindo em frente por todos esses anos foi essa fúria. As pessoas foram as primeiras a me falhar, claro, esperado, sempre o início. Mas minha inteligência me falhou, minha força me falhou, minha tristeza. Todas as emoções, todas as qualidades, todos os defeitos me falharam. Quando minha sanidade me falhou, minha insanidade! Quando a loucura! Justo ela, com quem compartilhei todas os cômodos de minha vida, ah, mas a fúria sempre habitou meu corpo. A loucura por vezes vinha, compartilhava de meu corpo, dançava comigo; por vezes me observava de longe sentada em uma poltrona inexistente fumando seu charuto e tomando seu conhaque. Eu costumava perguntar aos outros o que os motivava a levantar e viver o dia. A minha resposta é a mais simples de todas as que já ouvi. A lua cheia uiva para mim. Queria uivar de volta.
Construí minha força com minha fúria. Fortaleci minha mente com minha fúria. Sobrevivi com minha fúria. Tive amor, felicidade, tristeza, solidão, tudo isso me prendeu, me limitou. Calei as vozes da minha cabeça com fúria, me levantei do chão com fúria, trespassei tudo em fúria; corações e obstáculos.
Todas as minhas cicatrizes são cicatrizes de fúria. Todas as minhas conquistas são conquistas de fúria. Todos os meus dias são dias de fúria.