quarta-feira, 25 de abril de 2018

Os olhos de peixe morto, dirias. Não estou aqui, nem interessado. Sabes muito bem do fogo de meus olhos. E se não os vê agora... Bem, se perdes o olhar de tua perdição, te bendigo em lábios macios com palavras doces com o adeus que não quis dizer. Talvez fosse mais estético se mais dramático o fosse. Talvez saibas mais que eu que fico tudo que posso e, se vou, não volto. Talvez tenha sido apenas um dia ruim para nos encontrarmos. Hoje eu trocaria tudo pela força em palavras de fazer chorar a todos. E trocaria todas as lágrimas vertidas e todas as respirações suspensas e toda minha escrita pela chance de atear fogo ao mundo. E trocaria o mundo em chamas por um pouco de paz. Talvez não.

A gaita me chama para o mundo no blues do ambiente. Estou perdido em pensamentos novamente. Não me recordo de ter entrado nesse bar, pedido essa cerveja e, confesso, não reconheço quem está na minha frente. Pedir licença e pagar uma parte da conta deve ser o suficiente. Outro dia parei numa livraria, ninguém me parou para ser solícito. Penso se estou emanando antipatia ou caos. Existem lugares na mente que, como nas cidades, uma vez lá não há retorno.

Por que não jogo essa garrafa contra a parede e me conforto no barulho do estilhaçar? Por que insisto em me arremessar em grades que crio? Minha cabeça treme com olhos vacilantes esmagada em paredes arenosas. Preso numa sala que se fecha, as palavras sufocam me afogando, arranhar o caixão depois de enterrado, minha mente está ilhada em partes irracionais, perco as noções do pensar, só há dor.

Tudo se mistura. Como um quadro derretendo depois de anos feito. Como tudo que observo, perdendo suas bordas e definições, se entrelaçando em coisas sem sentido. Não vejo porta nesse quarto só de paredes. Não há sentido em portas se tudo é uma gaiola. Não vejo saída, nem como expressar completamente essa sensação.

me perdi numa dessas de pensar no tempo
Estou preso. Esse é meu presente, maldito e único. O passado escorre por minhas mãos como areia, consigo segurar algo mas tudo mais me foge, se apaga de minha mente sem piedade. O futuro foi estilhaçado, e um futuro não se faz do nada. Cravo unhas e dentes na sanidade de minha carne.
coisas antigas tão enterradas que não consigo entender como as estou pensando, ou vendo, ou sentindo. coincidências demais, meu cérebro liga coisas demais que não deveriam nem ser pensadas
de que vale o passar dos anos se vem tudo assim? de que vale o passar do tempo se a ferrugem, o estrago, fazem acalentar o natimorto de teus sonhos?
O tempo embalsama o passado corroendo o presente.

me jogo contra teu corpo em desejo
me entrelaço com a parede em desespero
colapsando em si, minhas mãos que não tremem de medo, estremecem de antecipação, estou fazendo algo errado, vivendo coisas ao reverso, aproveitando coisas que perdi e saboreando a loucura, tudo que foi breve por não ser leve e tudo que se reduziu a pó por não ser
como questionar o que não existe? como arguir assim a si sobre sanidade?
como escrever o desespero?
a conexão das palavras é vã - a pontuação, fútil
o caminho para a inexistência é estranho, ser mortal é estranho, correr não faz sentido, pedir socorro não faz sentido, não há aurora de algo novo não há crepúsculo em nosso tempo se tudo já decaiu um corpo podre já está podre, um esqueleto já acabou o fim não tem introdução e se chegou agora, sinto muito. Também me dói.

estou preocupado,não tenho mais a sensação de entrar e sair de um estado de loucura

Não me permito o arrependimento, esqueço de me desculpar, foi mal estrada percorrida, um agradecimento oco para as pessoas-combustível.
no mais, se é uma viagem só de ida, que seja uma viagem bonita