Tudo o que me assusta ou amedronta tem relação com o Tempo. Desespero-me em minha mortalidade. Meu coração pulsa em pressa, minha mente respira devagar; meus olhos frânticos procuram repouso que não existe enquanto estão abertos. Não cabe frenesi aqui. O que me mataria é a repetição. O que me mata é a repetição.
Quero gritar socorro. Quero resolver tudo. Resolver a vida me parece ruim.
Tento não desesperar mas pareço só correr.
emaranhado no emaranhado de possibilidades, quem fui amanhã, quem serei uma semana atrás? é fácil se perder, acordar sem saber, há noites que me entrego no cansaço, noites que combato para não dormir, noites que não me importo mas em todas elas há um medo em adormecer
insanidade? vivo nela. pesadelos? sempre controlo, exceto hoje que acordei por morrer
o que paralisa meu sono assim?
com certeza o medo de acordar e não encontrar mais em meu peito ou em minha mente o que me compõe hoje
Corro risco de vida, apaixonada a alma que é. Arrisco perder todas essas coisas ruins que carrego com algumas coisas boas que encontro no caminho.
Estou preocupado com essa insatisfação garantida. Que volta e meia assombra. Mas nunca se faz ou desfaz. Os pés em movimento, o pensamento corre à frente. Parar é arriscar não ser mais.
O tempo pressiona e perco a linha, perco os papéis; não ajo nem acho mais.
Alimento minha fome, depois a ansiedade, depois alguma coisa.
Altero minha mente no novo dia, nada mais se aplica. Ando com a firmeza de ter um caminho e sem ter um.
Palavras que não verão a luz, saídas de minha escuridão. Livros embalados. O mover dos ponteiros do relógio na sala. Tudo isso me mata aos poucos.
Reprimir o vômito das palavras se torna fútil. Aprisionei-me em um escritório que gosto. Meu coração é selvagem demais para tanto cimento.
Vou quebrar tudo aqui dentro ou aí fora. Se consegue me imaginar sem algum colapso, não consegue me imaginar. Como não se consumir? Como não enlouquecer? É como pedir a uma árvore que, por favor, não se queime no incêndio.
Como juntar frases soltas em algo conexo? Como se fazer inteiro de tantas partes quebradas? O corpo até aparenta ser o mais forte, os rasgos fecham, as pancadas somem; a alma, a mente e o que mais se tem, estilhaçados. Como se curar de si mesmo?