sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Não finda agora o ano, tampouco termina a vida. Mas já sei que a palavra por mim mais dita neste ano foi socorro. E sempre a ninguém. Um socorro gritado no carro fechado. Pensado ao banho. Sussurrado ao deitar. Nunca antes acordei chorando. Que horror. É ter os temores tão vivos que as portas do sono nada seguram. Se mais desespero, se mais agonia, como mensurar quão ruim? Em que se contam as batidas que o coração perde ou se mede o peso dos suspiros?
Ah... Endurecer, endurecer, endurecer, travar a mandíbula fechando o coração, essa é a forma de sobreviver. O corpo teso, a alma dura. Os dentes que me abocanhavam nem babam mais, perdido meu gosto nesse temor. Minhas mãos não tremem. O batimento silencioso. Quando este teto cairá sobre minha cabeça? O silêncio não me mata. O suave escorrer da areia na ampulheta rasga meu peito mais que todas essas facas. Cada segundo parado minha mente é dilacerada. Pra quê, ou melhor, como se preocupar com a morte se a loucura é um perigo tão maior? Tão mais próximo, tão íntimo...
Nas chamas da loucura insanidade fúria me perco. Todas essas voltas num círculo que vai se fechando. A violência do tempo me espanca.