Não sei se me pesa a carga que deveria mas olhar para o ano só me traz que afastei-me. Perdoem-me os pássaros nas árvores, as árvores no chão, as pessoas nas casas e nas ruas. Fechei o coração.
Sinto tudo. O sol refletindo na água, as folhas ao vento, as sombras que dançam, as nuvens que correm, até o que toca meu corpo. Um corpo colado ao meu. Alguém escuta meu peito, espero que diga coisas como a brisa do amanhecer ou o frescor que anoitece. Não sei qual passo ele vai desmarcar e tropeçar. As amarras prendem minha boca por dentro.
Sinto muito. De peito fechado atropelo tudo. Tudo é precioso mas nem os respiro. Ando passo após passo. Sou uma máquina com dor.
Desculpem-me as coisas alegres e - talvez por isso - distantes, falemos as coisas tristes. Dancemos as coisas estáticas. Enganemo-nos ao redor dessa fogueira. Esse brilho fugaz que corre para a escuridão de meus olhos. Nada ilumina. Apenas se esvai.
domingo, 15 de dezembro de 2019
sexta-feira, 13 de dezembro de 2019
Morderia minha mão inteira, não me permitiria divertir
O que aconteceu nesse meio do caminho do que chamamos vida?
Era já há muito dominado pela fúria, uma constante em todo meu tempo. Mas não ter nada além disso é algo novo em que me peguei no meio, e me peguei não gostando.
É como queimar o tempo todo.
Qual o valor do fogo quando se está o tempo todo em chamas?
Chegarei onde quero, eu e minhas cinzas, nada valerá a pena assim.
Os cabelos de ilusão, a barba de tristeza.
Por fazer, a fazer, aparada cresce a barba de fúria
deformando meu rosto
Toda essa fúria e a morte interna
A morte que vomito, escarrar é solta-la ao mundo
Oco, a cotovelada no rosto faz um barulho oco quando se arrebenta contra meu nariz
Minha cabeça já não me roda mais
Tenho os pés firmes, as pernas fortes, quase tudo de pedra
quase não mexo, quase me divirto, quase não danço
comovo-me mas quase não aparento,
Em que momento me tornei essa crosta de pedra com fogo dentro?
Apagarei? Romperei? Ou me quebrarei de uma forma estranha e amena?
Cresça a árvore em mim, com raízes em chama e folhas de rocha.
O tronco firme e os galhos flexíveis.
Planta em erupção na erosão do meu ser.
Madeira vermelha petrificada.
Lume em lenha viva.
A necessidade de renascer, torto a qualquer preço.
A dualidade de querer ver tudo florescer e queimar.
Querer se acabar em um instante e perdurar a ver findar lentamente as coisas.
O desespero de nunca parar de andar.
O que aconteceu nesse meio do caminho do que chamamos vida?
Era já há muito dominado pela fúria, uma constante em todo meu tempo. Mas não ter nada além disso é algo novo em que me peguei no meio, e me peguei não gostando.
É como queimar o tempo todo.
Qual o valor do fogo quando se está o tempo todo em chamas?
Chegarei onde quero, eu e minhas cinzas, nada valerá a pena assim.
Os cabelos de ilusão, a barba de tristeza.
Por fazer, a fazer, aparada cresce a barba de fúria
deformando meu rosto
Toda essa fúria e a morte interna
A morte que vomito, escarrar é solta-la ao mundo
Oco, a cotovelada no rosto faz um barulho oco quando se arrebenta contra meu nariz
Minha cabeça já não me roda mais
Tenho os pés firmes, as pernas fortes, quase tudo de pedra
quase não mexo, quase me divirto, quase não danço
comovo-me mas quase não aparento,
Em que momento me tornei essa crosta de pedra com fogo dentro?
Apagarei? Romperei? Ou me quebrarei de uma forma estranha e amena?
Cresça a árvore em mim, com raízes em chama e folhas de rocha.
O tronco firme e os galhos flexíveis.
Planta em erupção na erosão do meu ser.
Madeira vermelha petrificada.
Lume em lenha viva.
A necessidade de renascer, torto a qualquer preço.
A dualidade de querer ver tudo florescer e queimar.
Querer se acabar em um instante e perdurar a ver findar lentamente as coisas.
O desespero de nunca parar de andar.
domingo, 1 de dezembro de 2019
Desperdiçados em ti, esses cigarros acumulados em teus lábios, seus restos em teus dentes, nas calçadas e nos pulmões.
Por que distanciamo-nos as bocas e aproximamos de nós os vícios?
Preferia ouvir teus gritos que nunca ouvi a esse silêncio.
Um tapa, uma explosão, a indiferença traz o desespero. É a morte de todas as coisas.
Trouxemos nossos abismos internos para o meio de nós. Nem um metro de distância posto de uma forma intransponível.
Um silêncio transparente como vidro, forte como vidro. Tragar parece mais fácil que falar.
A cerveja, não importa quão amarga, não consegue ocultar o amargor já presente na boca - talvez alivie algo gelada nos breves segundos que desce a garganta - deixado pelas incontáveis coisas não ditas quase esquecidas apodrecidas em nossas línguas.
A música continua, a vontade de dançar se esvai.
Os olhos meio ocos, voltados para dentro, voltados para trás.
Os sorrisos presos nos cantos das bocas. Um respirar mais pesado pelo nariz é tudo que entregamos.
Evitamos mexer demais para não criar assunto.
A chuva não nós faz mover. Seu cair suave e descompassado em nossos rostos é nossa maior semelhança agora.
Hoje não há vento. O ar estático seria sufocante não fosse gélido.
Talvez a mão apoie a cabeça por que ela pesa.
Um de nós suspirará primeiro. Um de nós levantará primeiro.
A música acaba, precisamos retornar às nossas casas.
Não tarda, a noite finda com o sol a nascer.
Não tarde, feneceremos sem de novo nos amanhecer.
Por que distanciamo-nos as bocas e aproximamos de nós os vícios?
Preferia ouvir teus gritos que nunca ouvi a esse silêncio.
Um tapa, uma explosão, a indiferença traz o desespero. É a morte de todas as coisas.
Trouxemos nossos abismos internos para o meio de nós. Nem um metro de distância posto de uma forma intransponível.
Um silêncio transparente como vidro, forte como vidro. Tragar parece mais fácil que falar.
A cerveja, não importa quão amarga, não consegue ocultar o amargor já presente na boca - talvez alivie algo gelada nos breves segundos que desce a garganta - deixado pelas incontáveis coisas não ditas quase esquecidas apodrecidas em nossas línguas.
A música continua, a vontade de dançar se esvai.
Os olhos meio ocos, voltados para dentro, voltados para trás.
Os sorrisos presos nos cantos das bocas. Um respirar mais pesado pelo nariz é tudo que entregamos.
Evitamos mexer demais para não criar assunto.
A chuva não nós faz mover. Seu cair suave e descompassado em nossos rostos é nossa maior semelhança agora.
Hoje não há vento. O ar estático seria sufocante não fosse gélido.
Talvez a mão apoie a cabeça por que ela pesa.
Um de nós suspirará primeiro. Um de nós levantará primeiro.
A música acaba, precisamos retornar às nossas casas.
Não tarda, a noite finda com o sol a nascer.
Não tarde, feneceremos sem de novo nos amanhecer.
quinta-feira, 24 de outubro de 2019
Queria dividir esse céu azul e te dar metade
Dividir tua solidão ao meio e comer metade
Partir teus medos ao meio e queimá-los inteiros
Partilhar contigo meus sonhos partidos
Sorrir a outra metade dos teus sorrisos
Ser metade de teu espelho
Metade dos teus beijos devolver à tua boca
Reaver metade dos meus de teu corpo
Andar por metade dessas ruas que não me permito
Perdermo-nos pela outra metade
Entrelaçar metade da minha perna na tua
Ocupar metade de tua cama
Afundar em teus olhos de mar e esquecer a metade da areia que cai
Sorrir e sonhar o sono leve meio a meio
Deitar-te no meu peito complemento do teu rosto
E antes de distorcer tudo pela má e amarga metade
Parar este texto pela metade
Dividir tua solidão ao meio e comer metade
Partir teus medos ao meio e queimá-los inteiros
Partilhar contigo meus sonhos partidos
Sorrir a outra metade dos teus sorrisos
Ser metade de teu espelho
Metade dos teus beijos devolver à tua boca
Reaver metade dos meus de teu corpo
Andar por metade dessas ruas que não me permito
Perdermo-nos pela outra metade
Entrelaçar metade da minha perna na tua
Ocupar metade de tua cama
Afundar em teus olhos de mar e esquecer a metade da areia que cai
Sorrir e sonhar o sono leve meio a meio
Deitar-te no meu peito complemento do teu rosto
E antes de distorcer tudo pela má e amarga metade
Parar este texto pela metade
terça-feira, 17 de setembro de 2019
Não há memórias limpas dentro deste peito sujo
em lama, sangue e cinzas
tantas memórias espalhadas, empilhadas em poeira
intocadas pelo tempo
intocáveis pela dor
O cão uiva pra lua e a lua não uiva de volta
A lua cheia queima a minha pele, ando a esmo porque preciso andar
As ruínas em minha mente que não se reconstroem de volta
Nem em esforço, nem em fúria
Os destroços estão lá e pronto.
A embriaguez é muito feia. Não resta nada senão lançar-me na loucura
que é um grande rio gélido
A tortura de ser torto a andar torto em passos tortos por essas ruas tortas com suas casas tortas
todos os disfarces cedem frente às necessidades primitivas
a insanidade se vê forçada à lógica, o desespero arrasta para a insensatez
uma brincadeira de equilíbrio que só acaba quando se cai
o acúmulo das páginas em branco de todas as palavras sufocadas antes da boca ou dos dedos
tantas memórias espelhadas nesses meus olhos presos em ampulheta
não vejo mais as coisas vivas, tudo que observo me revela seu fenecer
desmanchando-se em cores de areia e tonalidades de melancolia
em lama, sangue e cinzas
tantas memórias espalhadas, empilhadas em poeira
intocadas pelo tempo
intocáveis pela dor
O cão uiva pra lua e a lua não uiva de volta
A lua cheia queima a minha pele, ando a esmo porque preciso andar
As ruínas em minha mente que não se reconstroem de volta
Nem em esforço, nem em fúria
Os destroços estão lá e pronto.
A embriaguez é muito feia. Não resta nada senão lançar-me na loucura
que é um grande rio gélido
A tortura de ser torto a andar torto em passos tortos por essas ruas tortas com suas casas tortas
todos os disfarces cedem frente às necessidades primitivas
a insanidade se vê forçada à lógica, o desespero arrasta para a insensatez
uma brincadeira de equilíbrio que só acaba quando se cai
o acúmulo das páginas em branco de todas as palavras sufocadas antes da boca ou dos dedos
tantas memórias espelhadas nesses meus olhos presos em ampulheta
não vejo mais as coisas vivas, tudo que observo me revela seu fenecer
desmanchando-se em cores de areia e tonalidades de melancolia
sexta-feira, 13 de setembro de 2019
Meu coração violento contra a jaula do meu peito
mas isso não é novidade
A liberdade é somente a troca por uma prisão maior
A vida é somente a ilusão de valer a pena
Já devo ter me repetido, no dançar das palavras
no emaranhado de ideias, na sensação de oceanos
forçando satisfação num abuso próprio
em pensamentos virulentos
Envileci, temo.
Antes de velho, sou vilão.
Minha raiva do mundo condensada numa fúria de coleira
Isso não deveria ser possível de tão absurdo
Nascerá a ira da gentileza, uma explosão colérica do ser contra si
Que o mundo trema como meus punhos cerrados, nada tremerá
Não tenho como me despir além do nu
meus dedos que escorrem pelo meu corpo
às vezes desejam que minha pele se solte
meus dentes não cravam com força em minha carne
não quero ter que regenerar tanto
perversão em forma de ideias
um sorriso sombrio que surge dos ossos ao rosto
uma nuvem nefasta projeta sua sombra em minha mente
em arrepio, um frio como espinho, agudo e invasivo
engraçado como já pedi para que não tivessem medo e talvez eu tenha
a água leva o que nocivamente me corrompe
tira de mim a minha própria morte
mesmo que temporariamente
mesmo que só para adormecer e fingir esquecer
mas isso não é novidade
A liberdade é somente a troca por uma prisão maior
A vida é somente a ilusão de valer a pena
Já devo ter me repetido, no dançar das palavras
no emaranhado de ideias, na sensação de oceanos
forçando satisfação num abuso próprio
em pensamentos virulentos
Envileci, temo.
Antes de velho, sou vilão.
Minha raiva do mundo condensada numa fúria de coleira
Isso não deveria ser possível de tão absurdo
Nascerá a ira da gentileza, uma explosão colérica do ser contra si
Que o mundo trema como meus punhos cerrados, nada tremerá
Não tenho como me despir além do nu
meus dedos que escorrem pelo meu corpo
às vezes desejam que minha pele se solte
meus dentes não cravam com força em minha carne
não quero ter que regenerar tanto
perversão em forma de ideias
um sorriso sombrio que surge dos ossos ao rosto
uma nuvem nefasta projeta sua sombra em minha mente
em arrepio, um frio como espinho, agudo e invasivo
engraçado como já pedi para que não tivessem medo e talvez eu tenha
a água leva o que nocivamente me corrompe
tira de mim a minha própria morte
mesmo que temporariamente
mesmo que só para adormecer e fingir esquecer
quarta-feira, 21 de agosto de 2019
O medo do silêncio é simples.
Ele que escorre feito água por meu corpo, repousa em meus pés em uma poça, onde me verei refletido - querendo ou não, de onde meus olhos me fitarão profundos. Talvez me perca nesse mar castanho mas a triste calmaria dá uma certeza de retorno, de sua inevitabilidade. Não posso viver mergulhado em mim, não há fôlego. Que eu retorne por obrigação, como fim de todo ciclo. Que eu retorne por vontade, como início escolhido de caminhada.
Ele que é uma câmara onde se revela a vã tentativa de capturar na mente a luz dos olhares.
Essa coisa densa quase palpável que pesa todo movimento.
As amarras que crescem em minha boca como ervas que trançam uma árvore sem, a princípio, sufocar
a vontade e talvez o instinto me dizem para fechar os olhos
e o silêncio não me deixa
devo ver, devo sentir, devo absorver todo o silêncio que meus olhos tocam
não são de devorar como frutas saborosas
ou algo qualquer que cede sob a mordida da fome
não posso desviar o olhar como em reflexo ou asco
o toque não ocorre porque espera-se que ele quebre o silêncio
e o silêncio que não quebra com as mãos é o maior medo de todos
é o silêncio que não se curva a murros ou gritos, inquebrável
e essa realização é o próprio desespero, é a própria ascendência na loucura
é o que traz a fúria e o sangue e arranca do poço a escuridão
e não mergulha pois a traz pra si e não afoga pois ensandecido nada teme
e não corre. não se corre do silêncio.
respiro o ar silencioso que anda por onde andam os ventos no corpo
hoje não há uivos nos labirintos, que sem o medo são só caminhos
falaria do silêncio das cadeiras, se fosse uma era a solidão, se fossem duas era o abandono, se fossem mais era uma perda, e não quero que interprete tudo errado dessa maneira
percebo as lacunas na mente, das coisas que não quis ou não aguentei
talvez exista um nível além da tolice em que um tolo permanece tolo por escolha
o silêncio existe além da solidão
Ele que escorre feito água por meu corpo, repousa em meus pés em uma poça, onde me verei refletido - querendo ou não, de onde meus olhos me fitarão profundos. Talvez me perca nesse mar castanho mas a triste calmaria dá uma certeza de retorno, de sua inevitabilidade. Não posso viver mergulhado em mim, não há fôlego. Que eu retorne por obrigação, como fim de todo ciclo. Que eu retorne por vontade, como início escolhido de caminhada.
Ele que é uma câmara onde se revela a vã tentativa de capturar na mente a luz dos olhares.
Essa coisa densa quase palpável que pesa todo movimento.
As amarras que crescem em minha boca como ervas que trançam uma árvore sem, a princípio, sufocar
a vontade e talvez o instinto me dizem para fechar os olhos
e o silêncio não me deixa
devo ver, devo sentir, devo absorver todo o silêncio que meus olhos tocam
não são de devorar como frutas saborosas
ou algo qualquer que cede sob a mordida da fome
não posso desviar o olhar como em reflexo ou asco
o toque não ocorre porque espera-se que ele quebre o silêncio
e o silêncio que não quebra com as mãos é o maior medo de todos
é o silêncio que não se curva a murros ou gritos, inquebrável
e essa realização é o próprio desespero, é a própria ascendência na loucura
é o que traz a fúria e o sangue e arranca do poço a escuridão
e não mergulha pois a traz pra si e não afoga pois ensandecido nada teme
e não corre. não se corre do silêncio.
respiro o ar silencioso que anda por onde andam os ventos no corpo
hoje não há uivos nos labirintos, que sem o medo são só caminhos
falaria do silêncio das cadeiras, se fosse uma era a solidão, se fossem duas era o abandono, se fossem mais era uma perda, e não quero que interprete tudo errado dessa maneira
percebo as lacunas na mente, das coisas que não quis ou não aguentei
talvez exista um nível além da tolice em que um tolo permanece tolo por escolha
o silêncio existe além da solidão
domingo, 23 de junho de 2019
Este é um texto de fúria. Esta é uma vida de fúria.
Se andei até minhas pernas não aguentarem, andarei até escorregar no sangue de meus pés.
Quando cair ao chão me arrastarei puxado por meus braços até asfalto, terra e sangue serem a mesma mistura. Se andarei em vão, que ande sobre meu sangue. Se viverei em vão, que viva em minha fúria.
Arrastaria apoiando meu queixo no asfalto até ele escorregar em sangue
até meu caminho ser todo de sangue
e quando me virar para fitar o céu no seu azul manso ou profundo
que venham os abutres me bicar, os devorarei e me banharei em seu sangue imundo
haverá uma pilha de abutres comendo abutres antes que eu seja a próxima refeição
Se andei até minhas pernas não aguentarem, andarei até escorregar no sangue de meus pés.
Quando cair ao chão me arrastarei puxado por meus braços até asfalto, terra e sangue serem a mesma mistura. Se andarei em vão, que ande sobre meu sangue. Se viverei em vão, que viva em minha fúria.
Arrastaria apoiando meu queixo no asfalto até ele escorregar em sangue
até meu caminho ser todo de sangue
e quando me virar para fitar o céu no seu azul manso ou profundo
que venham os abutres me bicar, os devorarei e me banharei em seu sangue imundo
haverá uma pilha de abutres comendo abutres antes que eu seja a próxima refeição
quinta-feira, 13 de junho de 2019
Acordei no meio da noite com os braços ao redor do meu pescoço. Queria quebrar o pescoço de alguém mas acordei para descobrir que era o meu próprio. Deixei uma nota mental para procurar depois se uma pessoa é capaz de quebrar o próprio pescoço com as próprias mãos enquanto dorme. Espero não ter aplicado nem metade da força que sonhei. Lembro que acordei já com um estalo. Parece tudo no lugar, não acho que vou morrer assim, ou que já morri.
Trago o celular da mesa para o lado do travesseiro por precaução. Não sei se tenho uma coisa me preocupando mais, ou se é só a tontura com que acordo. Escorrego de volta aos lençóis de sono sem o pescoço quebrado, adormeço rápido e sonho muito. Não houve tempo para o desespero.
Trago o celular da mesa para o lado do travesseiro por precaução. Não sei se tenho uma coisa me preocupando mais, ou se é só a tontura com que acordo. Escorrego de volta aos lençóis de sono sem o pescoço quebrado, adormeço rápido e sonho muito. Não houve tempo para o desespero.
terça-feira, 11 de junho de 2019
Um homem cansado andando sobre a calçada cansada dessa cidade cansada para uma casa cansada para tomar um banho gelado e dormir uma noite cansada. Acordar em um dia cansado e ir cansado ao trabalho cansado.
Desse mundo surrado e velho, como tirar algo que arranque o cansaço da alma?
Desculpem-me o sol, a lua, as estações, as terras de todas as cores, o vento. Estou cansado.
Meu corpo se move pelas pequenas porções de fúria que sobram em mim.
Caindo lentamente em um silêncio que não é de resistência.
O silêncio que mora nas madrugadas não é nada
É menor que o silêncio das mordidas que o tempo me dá
É menor que o peso dos meus suspiros.
O abismo que se forma ao meu redor... ou eu caminhei até aqui?
É menor que o silêncio das paredes.
Os cães da distância me mordem tão suavemente, não há como pará-los.
O silêncio é o que me resta, é o que sobra, é o que há.
Desconectando-me da realidade, não sinto vontade de voltar.
Não sinto. Já foi. Já passou.
Os sabores são dos jovens, o amargo dos remorsos.
A faca cortando minha carne ou cortando um queijo é só uma questão de posicionamento físico, não estou sabendo distinguir mais que isso. Estou me tornando as pessoas robóticas que odiava, mortas por dentro - ou, como agora vejo, desconectadas da realidade. Nada parece fazer diferença porque nada faz. Talvez uma dose de adrenalina embalada na forma de um atropelamento faça algo faiscar e, por sorte, acender; ou quebre de fato o que já é quebrado.
Como não desejar o caos se é a única coisa que ainda me move. Como não desejar o mundo em chamas para esquentar o peito e queimar a pele.
Morramos antes que envileçamos.
Desse mundo surrado e velho, como tirar algo que arranque o cansaço da alma?
Desculpem-me o sol, a lua, as estações, as terras de todas as cores, o vento. Estou cansado.
Meu corpo se move pelas pequenas porções de fúria que sobram em mim.
Caindo lentamente em um silêncio que não é de resistência.
O silêncio que mora nas madrugadas não é nada
É menor que o silêncio das mordidas que o tempo me dá
É menor que o peso dos meus suspiros.
O abismo que se forma ao meu redor... ou eu caminhei até aqui?
É menor que o silêncio das paredes.
Os cães da distância me mordem tão suavemente, não há como pará-los.
O silêncio é o que me resta, é o que sobra, é o que há.
Desconectando-me da realidade, não sinto vontade de voltar.
Não sinto. Já foi. Já passou.
Os sabores são dos jovens, o amargo dos remorsos.
A faca cortando minha carne ou cortando um queijo é só uma questão de posicionamento físico, não estou sabendo distinguir mais que isso. Estou me tornando as pessoas robóticas que odiava, mortas por dentro - ou, como agora vejo, desconectadas da realidade. Nada parece fazer diferença porque nada faz. Talvez uma dose de adrenalina embalada na forma de um atropelamento faça algo faiscar e, por sorte, acender; ou quebre de fato o que já é quebrado.
Como não desejar o caos se é a única coisa que ainda me move. Como não desejar o mundo em chamas para esquentar o peito e queimar a pele.
Morramos antes que envileçamos.
terça-feira, 28 de maio de 2019
Repasso a fala em minha mente. A tosse interrompe meus pensamentos. Seca e áspera, impossível não me levar para tantas outras memórias. O arco imaginário em volta de minha cabeça volta a apertar, a dor e a pressão na testa chegam a deixar tonto... Que nostalgia. Nos anos que eu era movido a fúria em meio a tudo, onde foi que perdi minha loucura? Rir o desespero, sorrir bem amargo, as unhas cortadas para não cravar em nada, mas já nem tentaria... Dessa vez sei que o mundo está parado e só eu que estou girando. Não faz muita diferença no fim, ainda quero vomitar. Ainda preciso vomitar. Todas essas coisas que engoli iludindo-me alimentar rastejam agora querendo sair. A tosse força o corpo a arquear. O mesmo meio sorriso, amargo e cansado. Quero rir. Não quero rir. A mão vai à boca mas já estou rindo. A mão dança no rosto passando pelo nariz, ainda não vou gargalhar. Os olhos ardem, estou rindo, a mão sobe à testa, não vou gargalhar. Sento no chão. Acho que estou sozinho. Estou sozinho? Posso enlouquecer? A ilusão de abrir uma jaula e pensar em entrar quando já se está trancafiado. Como cheguei até aqui? Sei exatamente e não faço a mínima ideia. Se for lembrar de tudo, não terei forças para sair daqui. O esquecimento sendo a única vingança vã. E o único perdão tolo. Ou o contrário. Talvez eu não me canse de fazer tolices. Mas já estou cansado de todo o resto. Os olhos e o peito disputam peso com o mundo. Deito-me. Estou gargalhando no chão. E a tosse vem me jogar de volta à realidade violentamente. Estou deitado. Acho que está escuro, meus olhos estão abertos e não vejo nada. Acho que respiro. Repasso a fala em minha mente. A tosse interrompe meus pensamentos.
domingo, 12 de maio de 2019
Todas e todas essas voltas para terminarmos sentados aqui. Na mesa, eu, um prato, e minha mente. Minha mente me morde pelas bordas. A insanidade mastiga pequenos pedaços e os devolve sem engolir. Pego-me em pé fitando o arroz que queima na panela. Não me importo tanto, se estiver comestível, comerei. O leve gosto de queimado acaba sendo uma diversão. Um desviar de atenção dessas folhas com seu verde vibrante sob o sol balançando ao ritmo do vento. O problema da vida é tudo ser tão bonito e tão cruel. Um ciclo é cruel em si.
estou com uma sensação estranha porque me tornei um estranho a mim
neguei-me tanto e por tanto tempo...
tenho as pilhas de afazeres acumuladas nos armários,
se não era quebrado pelo mundo, quebrei-me em minhas próprias mãos para conseguir existir
se confiei em mim que descobriria depois tudo novamente,
despedacei-me em papéis, anotações, rabiscos,
sinto em me decepcionar, não é isso que está acontecendo
o eco de glórias passadas que se encerra
os uivos de fúria sumindo sob a chuva
o silêncio que cresceu em meu ventre é absurdo
engoliu meu próprio abismo, absorveu minha escuridão
sou o próximo
Primeiro a loucura, depois a fúria e então o silêncio.
Não sei se caminho para algum silêncio ou se deveria...
Mas sinto surgindo em minha volta
emanando de meu ser, escorrendo pelas paredes, ascendendo pelas frestas do chão
Não temo o silêncio como a mata não teme a foice, como a caça não teme a lança.
Meus olhos em silêncio concentram-se na tarefa em minha frente. Os lábios grudados quase selados de tanto tempo sem se mover. Os movimentos das narinas já se desfizeram na naturalidade. As mãos trabalham. A cadência do martelo é tudo que existe no ar. Seu som é pequeno frente ao silêncio e, quase em vergonha, rapidamente se esvai.
Se a loucura dança e a fúria queima, o silêncio nada faz. E se abriga nessas porções de nada que percorrem as ruas como uma brisa que se transporta na sombra do vento.
Ainda não entendo. Como não entendia a primeira loucura ou a primeira fúria - e únicas, é claro.
Meu eu, uma mente, no prato, servidos a ninguém.
Não entendo como o sol não espanta o silêncio como espantava a loucura da alvorada.
Não entendo como a água gelada não dissipa o silêncio como dissipava a fúria em chamas.
Não entendo como o silêncio mora nas pequenas mordidas que dou em minha comida, nos passos calculados que dou sem pensar, na mão que levo à porta, nas pálpebras que pesam sobre meus olhos.
estou com uma sensação estranha porque me tornei um estranho a mim
neguei-me tanto e por tanto tempo...
tenho as pilhas de afazeres acumuladas nos armários,
se não era quebrado pelo mundo, quebrei-me em minhas próprias mãos para conseguir existir
se confiei em mim que descobriria depois tudo novamente,
despedacei-me em papéis, anotações, rabiscos,
sinto em me decepcionar, não é isso que está acontecendo
o eco de glórias passadas que se encerra
os uivos de fúria sumindo sob a chuva
o silêncio que cresceu em meu ventre é absurdo
engoliu meu próprio abismo, absorveu minha escuridão
sou o próximo
Primeiro a loucura, depois a fúria e então o silêncio.
Não sei se caminho para algum silêncio ou se deveria...
Mas sinto surgindo em minha volta
emanando de meu ser, escorrendo pelas paredes, ascendendo pelas frestas do chão
Não temo o silêncio como a mata não teme a foice, como a caça não teme a lança.
Meus olhos em silêncio concentram-se na tarefa em minha frente. Os lábios grudados quase selados de tanto tempo sem se mover. Os movimentos das narinas já se desfizeram na naturalidade. As mãos trabalham. A cadência do martelo é tudo que existe no ar. Seu som é pequeno frente ao silêncio e, quase em vergonha, rapidamente se esvai.
Se a loucura dança e a fúria queima, o silêncio nada faz. E se abriga nessas porções de nada que percorrem as ruas como uma brisa que se transporta na sombra do vento.
Ainda não entendo. Como não entendia a primeira loucura ou a primeira fúria - e únicas, é claro.
Meu eu, uma mente, no prato, servidos a ninguém.
Não entendo como o sol não espanta o silêncio como espantava a loucura da alvorada.
Não entendo como a água gelada não dissipa o silêncio como dissipava a fúria em chamas.
Não entendo como o silêncio mora nas pequenas mordidas que dou em minha comida, nos passos calculados que dou sem pensar, na mão que levo à porta, nas pálpebras que pesam sobre meus olhos.
terça-feira, 30 de abril de 2019
Começaria pedindo-te desculpas, mas eu não me desculpo. Não me culparias da demora, entende a necessidade de andar. Você sabe bem, conheço o meu caminho que faço caminhando. Sabe também que o tempo já me cobrou cada erro. Morreste ano retrasado mas ano passado você não morre. Talvez desejasse eu isso a mim mas não quero levar flores para minha cova.
Belchior, recomeço pedindo desculpas pela demora, o tempo é um cão raivoso que morde meus calcanhares e você sabe bem como é as coisas do coração. Ah... Não escrevi em tua morte como senti que devia, não escrevi em meu aniversário como pensei que faria. Os vinte e cinco anos de América do Sul são tão amargos quanto todos os outros. Feitos principalmente de sangue e de sonho. Os invernos de tristeza amontoados. Os anos de fúria que se somam. Talvez você possa compreender a minha solidão, o meu som e a minha fúria.
Na minha cabeça era um texto para ti mas o fiz sobre mim... Afinal a tua voz pesa cada frase em meu peito enquanto estes olhos se cegam de fechar. Não sei falar de ti sem inflamar-me. É mais proximidade que egoísmo, espero. Eu me desesperava no tempo que parei de sonhar. No presente é diferente, do silêncio que me corrói. Isso não me serve mais.
Ah, Belch, meus amigos me esperam no bar mas estou preso na minha cabeça. Por vezes quero ir sozinho, naquela conversa simples com quem traz a cerveja.
Foi tudo um pesadelo ruim? Que pesadelo grande.
Talvez eu espere o vento forte que os leve embora.
Depois de você não apareceu mais ninguém. O tempo andou mexendo com a gente, sim.
Belchior, você morreria de novo e eu não teria terminado esse texto.
Não li os livros sobre você, não li as teses, nem as dissertações, nem as entrevistas, nem as notícias, nem as luzes póstumas.
Ah! Deixemos o arrependimento para os niilistas. Talvez eu tenha esperado acabar esse ano tão sujo. Qualquer vitória desse ano existe sobre uma luz perversa, talvez sobreviver a ele seja a pior derrota. Os cigarros apagados de fúria e não tristeza. Sempre é dia de ironia no meu coração.
Nos últimos vestígios do dia, nos últimos resquícios da sanidade. A vida sempre acontece assim. Acho que queria ser as coisas mais simples. Acho que não. Queria talvez um texto mais limpo a dedicar a ti mas trouxe um texto vivo, maior que eu, menor que você. Sei que está bem leve, dado o peito pesado.
Tua morte, como de meus amigos, tem um peso único. Não aumenta. Não me acerta como um murro. Não me atropela. Tem seu peso e só. Soma-se a todos os outros pesos que carrego. Nunca aumentam. Mas enfraqueço. Levado aos joelhos. É nessa dor que vejo meu mapa do tempo.
Nada acontece que alegre meu coração.
Morreu assim, como deveria ser, de um coração selvagem.
Estenderam teu corpo em poste de luz mas já o desceram de lá.
Pediria palavras cândidas a ti mas no tempo passado até elas já se fazem gélidas.
E é isso, num texto mais teu que meu, sem sombra de dúvidas.
Lembro-me bem de quando cheguei e do blusão de couro que se estragara.
Em paralelas esquecendo tudo que um dia quis te dizer.
Não amanheceu ainda. Saiamos de nossos caminhos. Agora estamos em paz, o que temíamos chegou.
Belchior, recomeço pedindo desculpas pela demora, o tempo é um cão raivoso que morde meus calcanhares e você sabe bem como é as coisas do coração. Ah... Não escrevi em tua morte como senti que devia, não escrevi em meu aniversário como pensei que faria. Os vinte e cinco anos de América do Sul são tão amargos quanto todos os outros. Feitos principalmente de sangue e de sonho. Os invernos de tristeza amontoados. Os anos de fúria que se somam. Talvez você possa compreender a minha solidão, o meu som e a minha fúria.
Na minha cabeça era um texto para ti mas o fiz sobre mim... Afinal a tua voz pesa cada frase em meu peito enquanto estes olhos se cegam de fechar. Não sei falar de ti sem inflamar-me. É mais proximidade que egoísmo, espero. Eu me desesperava no tempo que parei de sonhar. No presente é diferente, do silêncio que me corrói. Isso não me serve mais.
É cada vez mais alucinante suportar o dia. A pressa de viver se esconde enterrada nas areias do meu deserto. Sufoco o que minha alma deseja. Vejo-me preso num reino onírico incapaz de delirar. Clamo tuas canções, entendo teus pedidos de socorro, não entendo os meus.
Ah, Belch, meus amigos me esperam no bar mas estou preso na minha cabeça. Por vezes quero ir sozinho, naquela conversa simples com quem traz a cerveja.
Foi tudo um pesadelo ruim? Que pesadelo grande.
Talvez eu espere o vento forte que os leve embora.
Depois de você não apareceu mais ninguém. O tempo andou mexendo com a gente, sim.
Belchior, você morreria de novo e eu não teria terminado esse texto.
Não li os livros sobre você, não li as teses, nem as dissertações, nem as entrevistas, nem as notícias, nem as luzes póstumas.
Ah! Deixemos o arrependimento para os niilistas. Talvez eu tenha esperado acabar esse ano tão sujo. Qualquer vitória desse ano existe sobre uma luz perversa, talvez sobreviver a ele seja a pior derrota. Os cigarros apagados de fúria e não tristeza. Sempre é dia de ironia no meu coração.
Nos últimos vestígios do dia, nos últimos resquícios da sanidade. A vida sempre acontece assim. Acho que queria ser as coisas mais simples. Acho que não. Queria talvez um texto mais limpo a dedicar a ti mas trouxe um texto vivo, maior que eu, menor que você. Sei que está bem leve, dado o peito pesado.
Tua morte, como de meus amigos, tem um peso único. Não aumenta. Não me acerta como um murro. Não me atropela. Tem seu peso e só. Soma-se a todos os outros pesos que carrego. Nunca aumentam. Mas enfraqueço. Levado aos joelhos. É nessa dor que vejo meu mapa do tempo.
Nada acontece que alegre meu coração.
Escrevo assim, como quem tem uma chance só, como quem tem poucas horas. Dado o tempo de escrever mas não de apagar. Meu passado é a própria ilusão de escrever-te tranquilo, que queimem as palavras de mim, fugaz como a chama, quente como a chama, elusiva como a chama. Escrever é melhor que sonhar.
Morreu assim, como deveria ser, de um coração selvagem.
Estenderam teu corpo em poste de luz mas já o desceram de lá.
Pediria palavras cândidas a ti mas no tempo passado até elas já se fazem gélidas.
E é isso, num texto mais teu que meu, sem sombra de dúvidas.
Lembro-me bem de quando cheguei e do blusão de couro que se estragara.
Em paralelas esquecendo tudo que um dia quis te dizer.
Não amanheceu ainda. Saiamos de nossos caminhos. Agora estamos em paz, o que temíamos chegou.
terça-feira, 9 de abril de 2019
Nomes. Quantos nomes não carrego. E quantos nomes carrego. Nunca se ser porque não se apresentou a ninguém. Sempre um apelido, uma situação, uma simulação. Outro alguém. Outra pessoa. Ah... Porém sempre si mesmo sozinho e desnudo no banho, sozinho e apaixonado atrás do volante na estrada. Os lugares que me encontro são esses e só. Todo o resto senão uma máscara, senão um filtro, senão uma lente ou a imagem turva nos próprios olhos embaçados como vitrais abandonados de construções em ruínas. Não me veem como eu sou.
Não há tempo para tanta coisa. Não há tempo para introduções. Não há tempo de dizer o que passou pela minha cabeça quando aquela borboleta atravessou meu campo de visão e eu me distrai e vi o céu azul com tons rosados no horizonte e senti a grama sob meus pés e de repente num dia monótono já era noite e os trovões no céu, e o vento gelado no rosto, não há tempo de se apresentar. Como te dizer todas essas sensações que eu sinto e que me compõem querendo ou não, e que me compõem querendo sim. Ah... Queria eu suspirar menos. Principalmente quando te digo de todas essas coisas. Principalmente quando acelero com as mãos firmes no volante.
A firmeza das mãos não existe em nenhum outro lugar. Falta e faz muita falta no coração. Não digo vacilante, talvez eu dissesse cambaleante, talvez incerto mas nem disso brincarei de ter certeza. Ah... Ah.. Ah. E ah novamente. Não fossem os meus sonhos compostos de tantos suspiros, a vida de tantos desesperos e tantos passados, eu me perdi no que dizia... Mas o carro avança na direção que aponta. O tempo passa enquanto me banho. A crueldade do homem se mostra nos conceitos que cria. Não entrarei no que tange às divindades. Mas olha bem o tempo, olha bem a natureza que percorre, que o permeia. Queria muito que você me dissesse com um pingo de certeza que fosse, sem tremulação na voz, que o tempo não é uma loucura e que isso não faz louca toda existência. Queria que me dissesse isso, talvez eu acreditaria. Há muita coisa em jogo a cada minuto. Há muita coisa em jogo, não posso perder meus minutos. É tudo tão pequeno e tudo tão maior que eu. Se você me dissesse que a vida é um ciclone, eu acreditaria sem questionar. Sinto-me rodar, rodar, rodar. Cada ano mais tonto, cada ano mais forte, o redemoinho. Quantas coisas deveria ter escrito antes de despedaçar minha mente...
Mas o dia que chamamos da mentira já se findou, voltemos às mentiras cotidianas.
Não há tempo para tanta coisa. Não há tempo para introduções. Não há tempo de dizer o que passou pela minha cabeça quando aquela borboleta atravessou meu campo de visão e eu me distrai e vi o céu azul com tons rosados no horizonte e senti a grama sob meus pés e de repente num dia monótono já era noite e os trovões no céu, e o vento gelado no rosto, não há tempo de se apresentar. Como te dizer todas essas sensações que eu sinto e que me compõem querendo ou não, e que me compõem querendo sim. Ah... Queria eu suspirar menos. Principalmente quando te digo de todas essas coisas. Principalmente quando acelero com as mãos firmes no volante.
A firmeza das mãos não existe em nenhum outro lugar. Falta e faz muita falta no coração. Não digo vacilante, talvez eu dissesse cambaleante, talvez incerto mas nem disso brincarei de ter certeza. Ah... Ah.. Ah. E ah novamente. Não fossem os meus sonhos compostos de tantos suspiros, a vida de tantos desesperos e tantos passados
Mas o dia que chamamos da mentira já se findou, voltemos às mentiras cotidianas.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2019
o que consegue com toda essa fúria?
sua mão trêmula não escreve, seus olhos virados nada focam, sua respiração forçada rasga o peito, seu coração fechado atropela a vida
tudo isso leva ao quê?
o coração contra o mundo, o corpo contra a parede
o cansaço na alma, o peso no peito
o que adianta?
fujo da repetição, corro do reflexo
a triste história em espiral, em círculos que se consomem
odeio me repetir
dei a volta, que horrível
o relógio não para nessa esquina e em nenhuma outra, não para no esgoto que percorre a rua, não para na água que escorre em meu corpo
não me segura se...
palavras vertidas em raiva pesam o dobro agora, pesarão mais depois
por isso a fúria devora, come sua raiva e cospe o resto de seu ser
a sobrevivência é ilusória
como um brinquedo quebrado que não sabe mais andar para frente
como um vidro estilhaçado que me reflete em todos os seus ângulos capturando minha frivolidade
essa última máscara de carne que por trás só há osso
o desespero já é estampado
todo controle foi descartado pra que não perdesse todo o controle
não preciso dizer que foi em vão
e digo mesmo assim. foi em vão
as escritas em seu peito (no pergaminho vivo de tua pele) se tornaram runas indecifráveis
um idioma estrangeiro no teu ser nativo
teu ser estranho no teu solo nação
o tempo não acomoda
são todas essas voltas e torturas e tonturas e bares e passados...
é tudo sobre o tempo?
o sangue ressecado em tua ampulheta
uma explosão vã nesse afã de valer o tempo
o que é o passado senão um borrão em minha mente
todas essas lembranças vistas por uma lente embaçada de lágrimas
essa água vai lavar meu corpo,
vai lavar meus pés cansados
mas não lava o cansaço em meus ossos,
o cansaço em minha alma
sua mão trêmula não escreve, seus olhos virados nada focam, sua respiração forçada rasga o peito, seu coração fechado atropela a vida
tudo isso leva ao quê?
o coração contra o mundo, o corpo contra a parede
o cansaço na alma, o peso no peito
o que adianta?
fujo da repetição, corro do reflexo
a triste história em espiral, em círculos que se consomem
odeio me repetir
dei a volta, que horrível
o relógio não para nessa esquina e em nenhuma outra, não para no esgoto que percorre a rua, não para na água que escorre em meu corpo
não me segura se...
palavras vertidas em raiva pesam o dobro agora, pesarão mais depois
por isso a fúria devora, come sua raiva e cospe o resto de seu ser
a sobrevivência é ilusória
como um brinquedo quebrado que não sabe mais andar para frente
como um vidro estilhaçado que me reflete em todos os seus ângulos capturando minha frivolidade
essa última máscara de carne que por trás só há osso
o desespero já é estampado
todo controle foi descartado pra que não perdesse todo o controle
não preciso dizer que foi em vão
e digo mesmo assim. foi em vão
as escritas em seu peito (no pergaminho vivo de tua pele) se tornaram runas indecifráveis
um idioma estrangeiro no teu ser nativo
teu ser estranho no teu solo nação
o tempo não acomoda
são todas essas voltas e torturas e tonturas e bares e passados...
é tudo sobre o tempo?
o sangue ressecado em tua ampulheta
uma explosão vã nesse afã de valer o tempo
o que é o passado senão um borrão em minha mente
todas essas lembranças vistas por uma lente embaçada de lágrimas
essa água vai lavar meu corpo,
vai lavar meus pés cansados
mas não lava o cansaço em meus ossos,
o cansaço em minha alma
terça-feira, 1 de janeiro de 2019
Iria. Poderia. Ia tantas coisas. O ano virou comigo no mirante. É apenas o mirante da cidade, você não entenderia, talvez tu entendesse. A brasa do cigarro trepida com o vento, eu nem fumo mas esse aqui acendi e assim tenho que apagá-lo. Em algum momento minha vida começou a girar. E até agora não parou. Só queria vomitar de tão tonto que isso me deixa. Achava que era uma espiral descendendo na loucura, ou insanidade, ou insensatez. Talvez desejasse o início de um furacão, tantas coisas podem acontecer com um furacão. Agora acho mesmo que era um descarga sendo feita e os giros só vão acelerar até que eu escorra pelo esgoto. Meus olhos parados não entregam o colapso de minha mente. Trago o ar noturno e gélido. Acho que acertei dessa vez. Sorrio um sorriso doente. Morrerei na lentidão das coisas ou na velocidade de um carro. Talvez devessem enterrar essa cidade inteira. Deixar para gerações futuras desenterrarem toda essa dor gritante de todas as pedras. Entrei num estado que não sei dizer mais se tenho dores de cabeça e já passei da parte que me importo. Minha mente é um grande salão vazio, o chão de madeira, o teto em cúpula a perder de vista, consumi tudo que havia. As coisas esquecidas representadas por nada. Há apenas a leve marca de sua passagem como a marca de uma mão sobre um tecido. E, assim como a marca, nada ela me diz além de sua ausência. Sei de tudo que esqueci numa superfície que só reflete, que não me deixa ver além. Lembre-se da morte porque de mais nada se lembrará. Perguntaria se palavras para ecoar sem canções de resposta fariam sentido, mas já sei que não. Tenho todas as respostas toscas para minhas perguntas imbecis. Grande ilusão não precisar nem me perguntar. Quando pararemos de fingir que não estamos em um trem que só acelera? Se todos os tremores do corpo e do peito fossem explicados pela força da locomotiva contra o aço...
Um dia cinza em uma vida cinza. Um fim quebrado para um ano em estilhaços.
Um dia cinza em uma vida cinza. Um fim quebrado para um ano em estilhaços.
Se for chover, choverá em mim. Se for fazer sol, não fará sol. Não há nada que remova essa fúria incrustada nos ossos. Não há luz que espante as sombras dentro das sombras. Quiçá somente as aumentaria. Desvanecendo como sonho é a minha lucidez na névoa da manhã. Esse mundo de tato tão real e lógica tão onírica. As obscenas cicatrizes de concreto. Tiraria minha sorte no maço de cigarro vermelho, mas por não querer ou não importar, o maço foi direto ao lixo em um golpe de punho.
A brasa some entre o cigarro e minha pele, mas não dói. Não dói tanto quanto todo o resto. Não dói tanto quanto essa névoa que oculta o céu estrelado. Não dói tanto quanto o céu estrelado. Não dói tanto quanto a brisa leve no rosto em um dia ameno. Não dói tanto quanto as portas para sempre fechadas de uma loja que nem frequentava. Não dói tanto quanto as pátinas cavadas pelo tempo na face de todas as janelas. E assim, aprendi, apanha-se da vida. Entre as batidas do coração e as batidas do relógio.
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