terça-feira, 9 de abril de 2019

Nomes. Quantos nomes não carrego. E quantos nomes carrego. Nunca se ser porque não se apresentou a ninguém. Sempre um apelido, uma situação, uma simulação. Outro alguém. Outra pessoa. Ah... Porém sempre si mesmo sozinho e desnudo no banho, sozinho e apaixonado atrás do volante na estrada. Os lugares que me encontro são esses e só. Todo o resto senão uma máscara, senão um filtro, senão uma lente ou a imagem turva nos próprios olhos embaçados como vitrais abandonados de construções em ruínas. Não me veem como eu sou.
Não há tempo para tanta coisa. Não há tempo para introduções. Não há tempo de dizer o que passou pela minha cabeça quando aquela borboleta atravessou meu campo de visão e eu me distrai e vi o céu azul com tons rosados no horizonte e senti a grama sob meus pés e de repente num dia monótono já era noite e os trovões no céu, e o vento gelado no rosto, não há tempo de se apresentar. Como te dizer todas essas sensações que eu sinto e que me compõem querendo ou não, e que me compõem querendo sim. Ah... Queria eu suspirar menos. Principalmente quando te digo de todas essas coisas. Principalmente quando acelero com as mãos firmes no volante.
A firmeza das mãos não existe em nenhum outro lugar. Falta e faz muita falta no coração. Não digo vacilante, talvez eu dissesse cambaleante, talvez incerto mas nem disso brincarei de ter certeza. Ah... Ah.. Ah. E ah novamente. Não fossem os meus sonhos compostos de tantos suspiros, a vida de tantos desesperos e tantos passados, eu me perdi no que dizia...  Mas o carro avança na direção que aponta. O tempo passa enquanto me banho. A crueldade do homem se mostra nos conceitos que cria. Não entrarei no que tange às divindades. Mas olha bem o tempo, olha bem a natureza que percorre, que o permeia. Queria muito que você me dissesse com um pingo de certeza que fosse, sem tremulação na voz, que o tempo não é uma loucura e que isso não faz louca toda existência. Queria que me dissesse isso, talvez eu acreditaria. Há muita coisa em jogo a cada minuto. Há muita coisa em jogo, não posso perder meus minutos. É tudo tão pequeno e tudo tão maior que eu. Se você me dissesse que a vida é um ciclone, eu acreditaria sem questionar. Sinto-me rodar, rodar, rodar. Cada ano mais tonto, cada ano mais forte, o redemoinho. Quantas coisas deveria ter escrito antes de despedaçar minha mente...
Mas o dia que chamamos da mentira já se findou, voltemos às mentiras cotidianas.