terça-feira, 11 de junho de 2019

Um homem cansado andando sobre a calçada cansada dessa cidade cansada para uma casa cansada para tomar um banho gelado e dormir uma noite cansada. Acordar em um dia cansado e ir cansado ao trabalho cansado.
Desse mundo surrado e velho, como tirar algo que arranque o cansaço da alma?
Desculpem-me o sol, a lua, as estações, as terras de todas as cores, o vento. Estou cansado.
Meu corpo se move pelas pequenas porções de fúria que sobram em mim.
Caindo lentamente em um silêncio que não é de resistência.

O silêncio que mora nas madrugadas não é nada
É menor que o silêncio das mordidas que o tempo me dá
É menor que o peso dos meus suspiros.
O abismo que se forma ao meu redor... ou eu caminhei até aqui?
É menor que o silêncio das paredes.
Os cães da distância me mordem tão suavemente, não há como pará-los.

O silêncio é o que me resta, é o que sobra, é o que há.
Desconectando-me da realidade, não sinto vontade de voltar.
Não sinto. Já foi. Já passou.
Os sabores são dos jovens, o amargo dos remorsos.

A faca cortando minha carne ou cortando um queijo é só uma questão de posicionamento físico, não estou sabendo distinguir mais que isso. Estou me tornando as pessoas robóticas que odiava, mortas por dentro - ou, como agora vejo, desconectadas da realidade. Nada parece fazer diferença porque nada faz. Talvez uma dose de adrenalina embalada na forma de um atropelamento faça algo faiscar e, por sorte, acender; ou quebre de fato o que já é quebrado.

Como não desejar o caos se é a única coisa que ainda me move. Como não desejar o mundo em chamas para esquentar o peito e queimar a pele.
Morramos antes que envileçamos.