Desperdiçados em ti, esses cigarros acumulados em teus lábios, seus restos em teus dentes, nas calçadas e nos pulmões.
Por que distanciamo-nos as bocas e aproximamos de nós os vícios?
Preferia ouvir teus gritos que nunca ouvi a esse silêncio.
Um tapa, uma explosão, a indiferença traz o desespero. É a morte de todas as coisas.
Trouxemos nossos abismos internos para o meio de nós. Nem um metro de distância posto de uma forma intransponível.
Um silêncio transparente como vidro, forte como vidro. Tragar parece mais fácil que falar.
A cerveja, não importa quão amarga, não consegue ocultar o amargor já presente na boca - talvez alivie algo gelada nos breves segundos que desce a garganta - deixado pelas incontáveis coisas não ditas quase esquecidas apodrecidas em nossas línguas.
A música continua, a vontade de dançar se esvai.
Os olhos meio ocos, voltados para dentro, voltados para trás.
Os sorrisos presos nos cantos das bocas. Um respirar mais pesado pelo nariz é tudo que entregamos.
Evitamos mexer demais para não criar assunto.
A chuva não nós faz mover. Seu cair suave e descompassado em nossos rostos é nossa maior semelhança agora.
Hoje não há vento. O ar estático seria sufocante não fosse gélido.
Talvez a mão apoie a cabeça por que ela pesa.
Um de nós suspirará primeiro. Um de nós levantará primeiro.
A música acaba, precisamos retornar às nossas casas.
Não tarda, a noite finda com o sol a nascer.
Não tarde, feneceremos sem de novo nos amanhecer.