Não sei se me pesa a carga que deveria mas olhar para o ano só me traz que afastei-me. Perdoem-me os pássaros nas árvores, as árvores no chão, as pessoas nas casas e nas ruas. Fechei o coração.
Sinto tudo. O sol refletindo na água, as folhas ao vento, as sombras que dançam, as nuvens que correm, até o que toca meu corpo. Um corpo colado ao meu. Alguém escuta meu peito, espero que diga coisas como a brisa do amanhecer ou o frescor que anoitece. Não sei qual passo ele vai desmarcar e tropeçar. As amarras prendem minha boca por dentro.
Sinto muito. De peito fechado atropelo tudo. Tudo é precioso mas nem os respiro. Ando passo após passo. Sou uma máquina com dor.
Desculpem-me as coisas alegres e - talvez por isso - distantes, falemos as coisas tristes. Dancemos as coisas estáticas. Enganemo-nos ao redor dessa fogueira. Esse brilho fugaz que corre para a escuridão de meus olhos. Nada ilumina. Apenas se esvai.