segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Escorrem os desejos carregados sob o peso da água gelada
Descende sobre minha Fúria o leve véu de minha loucura
Esvaem-se anseios, os toques, os significados das cicatrizes, caem em meu vazio e até o pequeno desespero que se encontra gigante é levado em gotas
Não dá tempo nem de concluir o sentimento angustiante que espreita um choro. Já passou...
As chamas da carne se apagam como vela sob a chuva
Talvez chiem mas se o fizeram foi tudo abafado pelo cair das águas

Não é rio, não vai seguir pelo ralo a correr onde lhe levar as águas
É pedra que águas passam e querer o calor ou o frescor não afeta em nada sua passagem
É só o meio, não começou em si, não acabará em si
Não cabe a si a decisão, mesmo que não caiba mais em si

Passa a água, perdem-se os desejos que não vão para outro lugar, desfazem-se os caminhos em sua pele, desatam-se os sentidos em mente que só servem a não entender o mundo
A gaiola de tudo é muito pequena
São as correntes que lhe lavam, as torrentes que lhe prendem

Subisse em vapor o que se deseja, respiraria e arderia novamente
Nu espera as últimas gotas escorrerem do corpo
E não há nada demais, só resta minha nudez
o que está gravado no corpo e o que foi arrastado da mente