culpem-me sentimentos vorazes queimados em mim e largados em um canto
culpem-me as palavras que arderam peito, garganta e boca para morrerem travadas entre os dentes
não fui sincero a vocês, não as escrevi no tempo de ardor
reviro agora as cinzas em mãos dormentes
reviro-me depois inquieto noite adentro
culpem-se mornas sensações, alguma coisa quebrada antes de inteira
quase sentires, meio viveres, lento despedaçar
a luz que toca torta pela janela, refletindo pequenas linhas no teto onde meus olhos dançam espirais e não se colocam a imaginar nada
bate o pensamento no limite da retina
como uma pedra a quicar na superfície do lago
como não romper a se aprofundar em uma ideia
como ter a imagem defronte e não olhar
sabemos que forçar é atravessar
que bater os olhos é ir de encontro à porta e não ao encontro da sorte
que essa película que torna as coisas perfeitamente inacabadas
existe apenas na mente
e que parece tão palpável que a respiração é suspensa
como se pudesse de alguma forma arrebentar