Uma da manhã, quase duas, esquento o almoço, não é nada demais.
Por que de novo isso? Jogando-me em pequenos extremos delirantes, descendo por pequenos precipícios. O que busco nesse estado insensato? Os sabores exploram minha língua, não é nada demais e ainda assim é tão satisfatório.
Sinto todo o cansaço e todas as sensações. Meu corpo acordado deseja correr e deseja dormir. A passos do colapso, preciso andar, continuo a comer sentado.
As coisas já tiveram a ausência de bordas, escorrendo umas nas outras em tudo que olhava, meus pensamentos e sensações derretidos, perdendo lentamente a forma, se tornando algo primitivo.
As coisas já tiveram o excesso de bordas, não misturando por mais que comprimidas umas nas outras, correntes invisíveis feitas de parede, não se mexendo, não quebrando.
As coisas estão tremendo, minhas mãos são firmes, meus olhos dançam no espelho, frenéticas rebelando-se contra o borrão suavemente incolor que se tornam.
Reviro fragmentos de memória sem real ânimo, como se fossem ao acaso remendar em um quebra-cabeça completo, como se em alguma parte restasse um magnetismo que unisse algum pedaço noutro.
Vejo minha mão em cores firmes que minha cabeça insiste em ser vibrantes, meu pé toca o chão e abraça os pequenos grãos de pedra e areia, tenho certeza que acharia um chinelo em casa se tivesse procurado, não sei por que estou aqui fora a andar descalço ladeira acima. Talvez meu corpo em algum nível ache que isso me despertará. A temperatura do ar toca minhas narinas, o sabor do vento meus ouvidos, estou entrando num estado de sobrevivência animal, preciso entrar no sono.
Uma descida rápida na loucura é explosiva em seu começo e fim, uma espiral louca descendente é uma vida lenta, a passos vagarosos nunca parando e jamais acelerando. Um arrastar sem pressa das areias sob teus pés, do tempo a sangrar sobre tua cabeça.