segunda-feira, 1 de março de 2021

Sobre meu enterro.

Além do pensamento constantemente flutuar sobre a morte, vez ou outra me pego pensando em como seria meu velório. Não, não há uma lista de presença ou cobrança para avaliar a demonstração de carinho pelo nível de choro e perturbação demonstrada em tal evento. É mais uma curiosidade. O que pessoas que nunca se encontraram conversariam lá? Conversariam? Sairiam novas amizades de uma que se finda? Como estaria o clima e as nuvens? Mas não espero nada, estarei falecido.

Minha mente divaga devagar sem muita vontade mas sendo levada mesmo em meio a preguiça pela torrente desse pensamento. Quais frases prontas estarão inseguras de serem ditas? Quais piadas ruins? Quais sorrisos de lembranças? Quais xingamentos guardados? Quais arrependimentos estarão estampados nos rostos e almas? Mesmo a morte se apequena frente à morte.

Também me pergunto qual tipo de mal gosto triunfaria na decoração. Qual música horrenda, qual planta morta, quais canções e ritos religiosos seriam-me impostos agora que estou morto?

Que fique claro, não tenho nada contra igrejas, além de ser contra todas elas. Sinceramente vejo que a religião deveria ser um elemento transformador do indivíduo como um caminho a se alcançar virtudes que seja, mas as mais poderosas - enquanto instituições financeiras e de influência política - só cumprem a função de manipular e injetar preconceitos. Lastimável. Além de utopia esperar bondade e tolice minha dizer isso.

Como alguma obra do destino, ou brincadeira sádica de quem rola os dados, recebi uma ligação enquanto digitava essas linhas. Senhora muito simpática perguntando se teria tempo para ouvir a palavra. Teria não. Não posso muito explicar enquanto mastigo o pão e ela diz que ligaria em outro momento. Esqueci de reforçar que não precisava.