Quase nada convém
Brincar de iluminar a própria escuridão com frágeis e pequenas chamas
Seria crueldade beber e diluir o amargor da boca
No apego do que machuca, ir embora é mais cruel
fingimos um sorriso, dividido em partes desiguais
Esses lindos olhos que me acompanham como se eu fosse um animal exótico
Esse olhar que me prende como se eu pudesse fugir
O desafio lançado após me entrelaçar, corra, corra daqui
Fuja pequeno selvagem, fuja agora que te prendi
Qualquer convencimento no presente não passaria de ilusão
Meu corpo clama por andar, me perder, queimar e esquecer ao som monótono de passos
meus pés pedem repouso, meus ombros não soltam a tensão
desejam em conjunto que eu seja atlas a mapear o mundo e não a suportar todos os pesos
Gosto das terras deste lugar, ser das montanhas
Na vista os verdes morros se estendem a misturar em tons azulados e esfumaçados com o céu
É importante que sejam longas e vastas, assim há espaço de esticar meus sentimentos até onde os olhos alcançam
E esticados posso observar o que são
Entender num nível sublime que não posso dizer que compreendo mas que flui por mim
Queria outra palavra pra céu, aqui só essa não basta
Sinônimos que pudesse desenhar com nuvens cinzas apressadas a ganhar distância sabe-se indo lá pra onde
Ou capturar as tonalidades de cinza que quase estáticas fazem uma pintura de presságio
Ou descrever essa parede acinzentada dos dias gélidos impossíveis de serem vencidos
Dá pra sentir muito e não entender nada
Tudo que é belo dói, como se a intensidade da beleza me fosse custosa aos olhos. Arde. Como se pagasse em dor o que meu olhar toca, em cada vislumbre o preço é a vista.
Não me envergonha as lágrimas, nem o sangramento discreto, interno e simétrico por trás dos meus olhos.
Absorvendo os últimos feixes de luz antes do anoitecer.