Papéis espalhados pela casa - escritos, desenhados, datilografados. Cadernos em branco, nunca entendi essa resistência em usar as folhas dentro de um caderno, mas seguem vazios. Os livros mais empoeirados que lidos, alguns embalados, tombados e esquecidos como tantas coisas esmaeceram por trás destes olhos. Houvesse energia, haveria lamento.
Os dias empilhados a alcançar o teto, dias que mordem uns aos outros, e são devorados na tosca rotação semanal, dias que comem dias e cospem semanas e expelem anos. Criamos coisas boçais por sermos boçais. Inventamos ordem e coisas pequenas e controláveis e coisas grandes e controláveis e nos descontrolamos e racionalizamos em fuga rabiscamos números palpáveis exatidões falsas preciosismo com tudo que serve pra nada
Somos engrenagens ou aguardos de erupção
disse, digo, tornei-me uma grande poça, incapaz de qualquer forma, tornar algum pensamento em alguma coisa maior, estando em nenhum lugar me dispersando em todos, diluído ao ponto de não mais ser, irradiando sentimentos confusos de forma contínua como se a todo instante fosse uma pedra a romper da água a superfície, mas não afundo, estou à deriva, não consigo adentrar minha profundidade, alcanço tateando e pego por vezes pequenas partes desprendidas flutuantes, sobras de ideias já sem finalidades e sem contexto - apresentadas assim a não conseguir dizer nada, é o que sobrou, dissolvido em minha própria liquidez