Por mim, preciso urgente organizar meu coração
São anos demais, vivências, amores e dores demais para ficarem soltas por aqui
Espalhadas loucamente por meu ser, expostas todas em mim
Não preciso que me afundem se sou meu próprio vórtice, se já me arrasto pra tudo que me consome
Mordo quase pra não ser mordido
Estilhaços de cada detalhe dispostos em meu chão
se me corto, se me perfuram os pés, se me dilaceram sendo menos de mim, talvez não me importe
a morte já se foi e sobrou o silêncio, por vez pior
ainda me questiono viverem tanto sem se explodirem em tudo
talvez alguma embriaguez vestida em motivação cegando qualquer outra coisa
talvez suas existências não doam tanto, ou nem causem dor
sigo de sangue, sigo sentindo demais, sinto me perdendo nessa tarde com o sol acariciando as montanhas ou nas madrugadas em que olho a luz difusa pelo vidro fosco
consigo me perder demais nessa reflexão incongruente do meu rosto no vidro, o calor lentamente se esvaindo de mim, levitando para fora, tentador que eu não faça nada, que imóvel veja tudo esmaecendo tão vagaroso a quase parecer estático
azar esperar que não me mova, se sou meu próprio incômodo, há algo em mim incansável, inquieto demais, que beira o incontrolável, assim me revolvo quase uma arma perigosa somente a si, me revolto realizado pelo simples desespero que a única ação plausível seja travar os dentes e dar outro passo, nexo ou não, insensato
parte da tinta da parede parece úmida, apesar da pintura antiga, como chorasse por mim
talvez mais comovida que eu, decerto mais sensata
inumano ou humano demais, feito por extremos, sem descanso no equilíbrio, sem equilíbrio pro descanso, ausente qualquer pausa, nunca recuperado o fôlego, descaso em proporções harmônicas sustentam de alguma forma
ressoa em mim ensurdecendo tudo, como um arrastar por ondas
e poucas coisas sei mais ruidosas
corro de encontro ao encontro delas
um soco a quebrar algo em meu rosto, meu coração no limite a estremecer todo meu corpo, a fúria do meu tambor