sexta-feira, 15 de março de 2024

Nao sei se chega uma certa idade manifestada no agora
Ou se um certo ponto nos ciclos humanos, ou talvez seja um ponto de não retorno único mesmo no tempo

Mas tudo se parece e se converte em despedidas

Desperdício de horas vãs em amargor
O sabor de minutos bem aproveitados

Talvez seja assim agora
A falta de espaço para as lacunas
Um tempo preenchido por vezes por sabe-se lá bem o que mas que nunca sobra, sempre falta

Um muito correr atrás de poucas coisas
quem pra dizer que não é em círculos?

os trinta talvez seja uma coisa de enigma, daí as crises, ou a fama

de certa forma um vai ou racha, ou não vai mesmo também, entendimento conjunto de que o caminho pra frente é múltiplo mesmo que assim não veja, com saber que somente um será tomado; pode pular à vontade entre as trilhas, voltar jamais 

trinta anos e sabemos exatamente o que não queremos ser, talvez alguma frágil ideia do que desejamos ser

tão volátil e desrespeitado nosso tempo

sem um algo específico pra se dizer sobre a vida
como talvez nossos pais aos trinta, como talvez nossos avós aos trinta
que conselhos temos pra dar se é gritante a sensação de estar perdido?

entendo o acolhimento de qualquer verdade absoluta, o caos - não contraposto à ordem, mas sim feito natural - é uma liberdade impossível de se vivenciar, por vezes pesado demais pra se entender, sutil e leve de sentir

sabermo-nos sozinhos em vida, em mundo e fora dele, é esmagador
ao mesmo tempo conectados de tantas formas

é como uma pedra a rolar montanha abaixo ao se desprender da pedreira

era a pedreira a natureza que nos distanciamos sob pretexto de usar roupas?
ou era os outros que inevitavelmente nos afastamos em buscar nos conhecer?
ou era ver a si mesmo perdendo um fragmento minúsculo e irrecuperável, ou sendo o fragmento minúsculo e irrecuperável 
diminuto e irreparável

não tenho nada pra dizer daqui
sei muitas coisas e ainda permanece que sinto muito mais, tudo serve para transbordar sem fim minha xícara se não me afasto, se não caminho meu próprio caminho ou a esmo

entende que não há o que entender?
entenda que não é sobre entender

é saber incapturável o relâmpago exceto já posta a câmera e já pressionado o dedo

é achar que vai lembrar depois e esquecer pra sempre 

é não conseguir se lembrar da ideia brilhante de ontem 

trinta anos e mais um dia

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Não poderia agora não ser o que sou
Não afastar de tudo, não escutar nada, não querer também dizer

O mundo se contorce em variados círculos e eu em espirais, às vezes nos sincronizamos, no momento não

Meus pensamentos parecerem um rebobinar acelerado de fita, ou o febril consumo de conteúdo sem nenhuma fixação
tantas partes do meu corpo andam trêmulas, olhos, mãos, boca. colapso ou colisão

Meus sentimentos são menos claros, ou ilusões naturais como águas de rio refletindo coisas demais
hipnóticos, atraentes, brincando fugazes, algo entre sonho e a percepção da realidade

Se não aceitava que fôssemos, por que a rebeldia em eu ser qualquer outra coisa? A recusa, a pirraça, o não aceite
não cabia isso, só assim caberíamos, algo diferente, de certo encaixe, de certo apreço, incertos abraços

A falta de espaço do falar só levou à distância, te reconheço mais a mim, preciso me olhar mais, reconhecer não este corpo mas estes olhos no espelho
a distância como inevitável, conduzida pela maré, inexorável, não é?

Não espero que entenda, nem aguardo nada, há tanta coisa em movimento no presente que lembrar ou sonhar se sufocam em si
se não me encontrei do início da vida até aqui, não é de repente que virá uma realização
mas que doem os desencontros, sim, pesam muito mais

As coisas que me doem continuarão a doer, ainda vou me assombrar, espero que enfrente as sombras diferente de como nunca resolvi as minhas
porque depois de tanto tempo o apego é maior que o incômodo

e a dor é um pequeno detalhe, lembrete da vida e que não arde tanto
e minha força vem meio torpe e meio torta, se já andei tão pesado e com tanto peso, o que é mais qualquer coisa para carregar?
o passo é uma certa forma de certeza, uma mentira contada pelas pernas, uma tenacidade representada no corpo que não condiz com nada

me disseram em repetição que somos sujeitos da própria história
as ondas me deixaram na areia, a partir dali nunca parei de andar