Não poderia agora não ser o que sou
Não afastar de tudo, não escutar nada, não querer também dizer
O mundo se contorce em variados círculos e eu em espirais, às vezes nos sincronizamos, no momento não
Meus pensamentos parecerem um rebobinar acelerado de fita, ou o febril consumo de conteúdo sem nenhuma fixação
tantas partes do meu corpo andam trêmulas, olhos, mãos, boca. colapso ou colisão
Meus sentimentos são menos claros, ou ilusões naturais como águas de rio refletindo coisas demais
hipnóticos, atraentes, brincando fugazes, algo entre sonho e a percepção da realidade
Se não aceitava que fôssemos, por que a rebeldia em eu ser qualquer outra coisa? A recusa, a pirraça, o não aceite
não cabia isso, só assim caberíamos, algo diferente, de certo encaixe, de certo apreço, incertos abraços
A falta de espaço do falar só levou à distância, te reconheço mais a mim, preciso me olhar mais, reconhecer não este corpo mas estes olhos no espelho
a distância como inevitável, conduzida pela maré, inexorável, não é?
Não espero que entenda, nem aguardo nada, há tanta coisa em movimento no presente que lembrar ou sonhar se sufocam em si
se não me encontrei do início da vida até aqui, não é de repente que virá uma realização
mas que doem os desencontros, sim, pesam muito mais
As coisas que me doem continuarão a doer, ainda vou me assombrar, espero que enfrente as sombras diferente de como nunca resolvi as minhas
porque depois de tanto tempo o apego é maior que o incômodo
e a dor é um pequeno detalhe, lembrete da vida e que não arde tanto
e minha força vem meio torpe e meio torta, se já andei tão pesado e com tanto peso, o que é mais qualquer coisa para carregar?
o passo é uma certa forma de certeza, uma mentira contada pelas pernas, uma tenacidade representada no corpo que não condiz com nada
me disseram em repetição que somos sujeitos da própria história
as ondas me deixaram na areia, a partir dali nunca parei de andar